Acidente de trabalho recrudesce na construção civil
Até 2010, números estavam em queda. A partir de 2011, voltaram a crescer. Para a ABPA, combate deveria ser feito com fiscalização educativa.
Até 2010, números estavam em queda. A partir de 2011, voltaram a crescer. Para a ABPA, combate deveria ser feito com fiscalização educativa
Por: Altair Santos
Entre julho de 2003 e julho de 2013, o número de trabalhadores da construção civil cresceu de 1,7 milhão para quase 3,5 milhões no Brasil. O maior salto se deu a partir de 2008, quando o governo federal criou estímulos através do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e do Minha Casa, Minha Vida. Esse aumento veio seguido de campanhas para prevenir acidentes de trabalho no setor. O resultado foi que, entre 2008 e 2010, houve queda no número de acidentados. Porém, a partir de 2011, os dados recrudesceram. Segundo os ministérios da Previdência Social, da Saúde e do Trabalho e Emprego, a construção civil, que chegou a cair para o 4º lugar no ranking de acidentes, voltou a oscilar entre o 3º e o 2º posto.
Hoje, de cada 10 acidentes de trabalho que ocorrem no país, três acontecem em canteiros de obras. Dos acidentados, apenas metade retorna ao mercado de trabalho da construção civil. Essas estatísticas têm sido alvo de preocupação do Tribunal Superior do Trabalho (TST) que recentemente participou no senado federal de um debate sobre o tema. Entre as constatações, está a de que a qualificação da mão de obra não conseguiu acompanhar o volume de contratações. Além disso, o TST admitiu que faltam auditores fiscais para detectar irregularidades em obras. Outro aspecto preocupante é a terceirização, que, segundo o Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho, está envolvida em oito de cada dez acidentes no setor.
De acordo com o presidente da ABPA (Associação Brasileira para Prevenção de Acidentes) Milton Perez, boa parte dos acidentes relacionados a empresas terceirizadas está vinculada a contratações ilícitas. “Tratam-se de empresas que são montadas sem orientação e que acabam não realizando a qualificação de seus colaboradores com base em programas como o PPRA (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais) e o PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional). E por que isso ocorre? Por que a maioria age na informalidade”, explica. “Por isso, a construtora que contrata um terceirizado precisa ver se ela cumpre as exigências para depois não ter problemas”, completa.
A ABPA defende que ocorra a fiscalização educativa nos canteiros de obras, com a implantação do ciclo PDCA (do inglês PLAN – DO – CHECK – ACT [Planejar-Executar-Verificar-Ajustar]) para controle e melhoria contínua de processos. “É preciso educar, reeducar, educar, reeducar, sempre numa espiral, e de forma permanente, para criar a cultura da segurança no trabalho“, avalia Milton Perez, para quem o Sistema S (Senai, Senac e Sesi) é fundamental para que essas mudanças se consolidem. “Desde o superaquecimento do mercado da construção civil, o Sistema S já qualificou mais de sete mil trabalhadores para o setor. Óbvio que é preciso mais. Porém, o caminho para a prevenção é esse”, finaliza.
Entrevistado
Milton Perez, presidente da ABPA (Associação Brasileira para Prevenção de Acidentes)
Currículo
– Milton Perez é graduado em administração de empresas, com pós-graduação em estratégia empresarial
– Com 70 anos de idade, é presidente da ABPA (Associação Brasileira para Prevenção de Acidentes) especialista de segurança do trabalho e um dos primeiros técnicos em segurança do trabalho do Brasil
– Também é diretor do estadual do SINTESP (Sindicato dos Técnicos em Segurança do Trabalho de São Paulo)
– Faz parte do GEHST (Grupo de Estudos de Higiene e Segurança do Trabalho) e é integrante do Comusan (Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional de São Paulo)
Contatos: www.abpa.org.br / abpasn@terra.com.br
Créditos fotos: Divulgação autorizada / ABr
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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