Upcycling na construção civil: preservação da memória histórica e sustentabilidade

Prática favorece o consumo consciente e a circularidade dos bens de consumo, prolongando a vida útil dos materiais

A construção civil tem adotado novas práticas para acompanhar tendências de sustentabilidade e consumo consciente. Entre os conceitos que ganharam força nos últimos anos, destaca-se o upcycling, método que promove a reutilização criativa e com valor agregado de materiais obsoletos.

O upcycling consiste na transformação de materiais descartados ou obsoletos em objetos de valor com novos usos. Na construção civil, isso pode ocorrer por meio da reutilização de materiais de demolição para criar novos elementos arquitetônicos ou objetos de design.

Segundo Lilian Basilio, gerente de Obras e Pós-Obras da Incorporadora Weefor, o conceito vem ganhando popularidade desde os anos 2000, como uma resposta à demanda crescente por padrões de consumo mais conscientes e pela preservação do meio ambiente.

Upcycling e retrofit: abordagens complementares

Conceito incorpora a memória histórica a novos projetos, conectando o passado e o presente.
Crédito: Divulgação

Apesar de ambos os conceitos se alinharem a estratégias de sustentabilidade, upcycling e retrofit possuem aplicações que se diferem significativamente. O retrofit envolve a modernização de grandes estruturas e sistemas, frequentemente utilizando tecnologia para melhorar a eficiência energética de edifícios.

Já o upcycling foca em ressignificar elementos menores e incorporá-los de forma criativa a novos projetos. Dessa forma, as duas práticas podem ser complementares, combinando a modernização estrutural com o reaproveitamento criativo de materiais.

Em contraste com o retrofit, que se concentra em modernizar estruturas existentes para melhorar sua eficiência e funcionalidade, o upcycling adota uma abordagem mais simples e criativa, com foco em dar novo propósito a materiais que seriam descartados. “Enquanto o retrofit trata de incluir um novo sistema de conforto térmico em um prédio, o upcycling reutiliza azulejos antigos para criar uma obra de arte”, exemplifica Lilian.

Leia também: Retrofit: um conceito que une engenharia e arquitetura para dar nova vida para edificações antigas

Conservação da memória e inovação

A Weefor incorporou o upcycling em seu portfólio como parte do desenvolvimento de seus empreendimentos, preservando a história dos locais onde as construções são erguidas. Um exemplo é o projeto MOVA WF, localizado em um terreno que abrigava casas dos anos 1970, repletas de elementos arquitetônicos e materiais que refletiam a época. “Quando recebemos os projetos vencedores do concurso WeeforARQ II, foi surpreendente verificar que os arquitetos conseguiram manter viva a história daquele terreno, respeitando e valorizando o passado. Isso nos inspirou a adotar o upcycling na arquitetura de interiores do MOVA WF”, conta Lilian.

No MOVA WF, localizado no bairro Batel, em Curitiba, os painéis de madeira das antigas casas foram transformados em móveis para o hall de entrada, e o piso foi reaproveitado para confeccionar mesas de centro. “Além disso, portas e outros materiais foram reformulados e incorporados em novas peças de design, unindo memória e sustentabilidade nas áreas comuns do empreendimento”, detalha.

Economia e outras vantagens do upcycling

Painéis das antigas casas foram transformados para uso no hall de entrada.
Crédito: Divulgação

A utilização de materiais já existentes não apenas reduz a extração de novos recursos naturais, mas também diminui os custos de descarte e transformação. “Há uma economia gerada pela reaplicação dos materiais, pois não há demanda por novos recursos e o processo tende a ser mais simples”, destaca Lilian. Essa prática favorece o consumo consciente e a circularidade dos bens de consumo, prolongando a vida útil dos materiais e diminuindo o impacto ambiental.

Além dos benefícios econômicos, o upcycling contribui para a preservação do patrimônio histórico. Materiais e objetos que fazem parte da memória de uma época ganham novos usos, perpetuando histórias e promovendo um vínculo emocional com o ambiente construído

Além do MOVA WF, o conceito de upcycling já havia sido aplicado em outros empreendimentos da incorporadora. Em outro empreendimento, isoladores elétricos industriais foram transformados em uma escultura pelo paisagista Felipe Eira, uma forma de homenagear a história do terreno e dar novo significado aos materiais do local.

Sustentabilidade histórica

O upcycling na construção civil vai além da reutilização de materiais, porque incorpora a memória histórica nos novos projetos, proporcionando uma conexão entre o passado e o presente. “Nossa ideia é que a história do terreno seja sempre parte integrante do desenvolvimento do produto, preservando tanto a materialidade quanto os significados históricos”, enfatiza.

Dessa forma, ao adotar o upcycling, as construtoras não apenas contribuem para um meio ambiente mais sustentável, mas também para a valorização cultural e a conservação da história dos locais onde atuam, criando empreendimentos que são tanto funcionais quanto simbólicos.

O upcycling abrange uma infinidade de materiais. Elementos oriundos de demolição, como blocos e lajes de concreto, podem ser utilizados como base de terrenos ou enchimento. Além disso, esses materiais podem ser utilizados para criação de obras de arte e esculturas. “O terreno onde será construído o projeto vencedor do WeeforARQ 3º Edição abrigava uma siderúrgica que possuía vários elementos de concreto. Dispponibilizamos para os participantes do concurso um acervo de imagens desses elementos para que possam se inspirar na história daquele terreno”, assinala.

Na construção civil, é cada vez mais necessário adotar conceitos que promovam uma nova forma de construir os empreendimentos e, até mesmo, as cidades. O upcycling oferece inúmeras oportunidades nesse sentido. “Pode ser aplicado na reutilização de materiais de demolição em novos produtos ou elementos de arquitetura e design, na confecção de mobiliário, na criação de novos usos para equipamentos de transporte e embalagens, entre outras possibilidades. Afinal, a criatividade para criar novos produtos pode ter como base a premissa de ressignificar objetos já produzidos e que estão fora de uso”, conclui.

Entrevistada

Lilian Basilio é arquiteta e urbanista graduada pela Universidade Positivo (UP), pós-graduada em BIM pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e gerente de Obras e Pós-Obras da incorporadora Weefor.

Contato: lucy@weefor.com.br

Jornalista responsável
Ana Carvalho
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