Estudo avalia potencialidade de regiões brasileiras para desenvolvimento de atividades para captura, uso e armazenamento de carbono

Regiões Sudeste e Nordeste são as maiores promissoras para a estruturação dos primeiros projetos de CCUS no Brasil

Para reduzir as emissões de gases do efeito estufa e o CO2 em excesso na atmosfera, a Captura, Armazenamento e Uso de Carbono (CCUS) é uma das estratégias mais promissoras. Nesse sentido, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) realizou um estudo que oferece uma visão sistêmica sobre a relevância de cada área do território nacional para o desenvolvimento de projetos de armazenamento geológico de carbono a partir do conjunto de informações disponíveis.

No contexto brasileiro, a indústria cimentícia destaca-se por ser uma das que menos emitem CO2 do mundo. Crédito: Envato

Dentro da perspectiva técnica, foram avaliadas as possibilidades qualitativas de sítios para armazenamento subterrâneo de CO2 em reservatórios geológicos, presentes nas bacias sedimentares brasileiras. De acordo com estudo de georreferenciamento sobre os potenciais brasileiros para o desenvolvimento das atividades de CCS (Captura e Armazenamento de Carbono), os pesquisadores verificaram que as regiões Sudeste e Nordeste são aquelas com as maiores relevâncias para a estruturação dos primeiros projetos de CCUS no Brasil.

As regiões Sudeste e Nordeste possuem bacias sedimentares com múltiplas camadas de reservatórios geológicos, potencialmente favoráveis ao armazenamento e uma maior robustez no quadro de dados de Geologia e Geofísica disponíveis”, afirmam as pesquisadoras da EPE, Regina Freitas Fernandes, Nathália Oliveira de Castro e Camila da Mota Carvalho.

Bacias com reservatórios areníticos chamam mais atenção para o desenvolvimento dos primeiros projetos. No Brasil, destacam-se, em terra, as bacias de Alagoas, São Francisco, Sergipe, Paraná, Recôncavo e Tucano Sul. Em mar, as bacias de Campos, Espírito Santo-Mucuri, Santos e SEAL seriam aquelas com expectativas mais elevadas. 

“Embora ainda pouco compreendidos, os reservatórios carbonáticos e em rochas ígneas também são possíveis e existem iniciativas ao redor do globo para entendimento do comportamento da pluma de CO2 injetado ao longo do tempo nestes sítios. Nesse sentido, no caso das rochas vulcânicas básicas, as bacias do Paraná e do Parnaíba já despertam bastante interesse de alguns grupos de estudo, e outras bacias, como Alagoas, Campos, Recôncavo, Santos, Sergipe e SEAL, mostram potencial para investigação futura”, avaliam as pesquisadoras.

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Estudo sugere caminhos para setor cimentício

De acordo com o levantamento, 91 unidades do setor de cimento foram consideradas conforme relatório anual do Sindicato Nacional da Indústria de Cimento (SNIC). As regiões Sudeste e Nordeste concentravam mais de 70% das unidades no Brasil, sendo os maiores destaques os Estados de Minas Gerais (15 unidades), São Paulo (12 unidades), Rio de Janeiro (8 unidades), Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba e Pernambuco (todos com 4 unidades cada um).

Por envolver questões múltiplas, é extremamente recomendável que a participação do setor de cimento ocorra em comunhão com outros segmentos”, assinalam. O levantamento, apresentado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), destaca que a viabilidade econômica da captura de carbono dependerá de políticas públicas robustas e de investimentos significativos em pesquisa e desenvolvimento. 

A engenheira Edna Possan, especialista em sustentabilidade e professora na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), ressalta que a captura de carbono é uma das abordagens essenciais para alcançar a descarbonização da indústria. “A remoção do carbono depende de tecnologias e de legislação. Atualmente, as tecnologias para CCUS possuem custo elevado e baixa eficiência”, explica.

Edna também destaca que, embora o Brasil esteja avançando em direção à regulamentação de um mercado de carbono, as discussões ainda estão em fase inicial, com incertezas quanto ao valor da tonelada de carbono a ser aplicado.

Indústria cimentícia brasileira é uma das menos emissoras de CO2 do mundo

A captura de carbono não é apenas uma alternativa, mas uma necessidade para a descarbonização da indústria cimentícia. A Global Cement and Concrete Association (GCCA) estima que, até 2050, cerca de 36% da redução total de emissões precisará vir de tecnologias de captura, uso e armazenamento de carbono. No entanto, o custo elevado dessas tecnologias e a falta de infraestrutura adequada em muitas regiões do mundo continuam sendo barreiras significativas para sua adoção em larga escala.

De acordo com o Roadmap Tecnológico do Cimento, desenvolvido pelo Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC) e Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), a indústria cimentícia brasileira destaca-se por ser uma das menos emissoras de CO2 do mundo, com uma média de 560 kg de CO2 por tonelada de cimento. “No entanto, o caminho para a neutralidade de carbono até 2050 exigirá avanços tecnológicos ainda maiores, especialmente na produção de clínquer mais reativo”, analisa Edna.

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A indústria cimentícia brasileira já demonstrou capacidade de inovar e liderar em termos de eficiência energética e redução de emissões. Com os investimentos certos e o apoio necessário, pode também ser um exemplo de como a captura de carbono pode ser integrada em um modelo de negócios sustentável e lucrativo.

Entrevistados
Edna Possan é engenheira civil e doutora em Engenharia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professora na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) e coordenadora do Laboratório de Desempenho, Estruturas e Materiais.
Regina Freitas Fernandes é graduada em Geologia pela Universidade de São Paulo (USP), mestre em Sistemas Petrolíferos pela COPPE/UFRJ e consultora Técnica da EPE.
Nathália Oliveira de Castro é graduada em Oceanografia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), mestre em Oceanografia pelo Programa de Pós-graduação em Oceanografia da UERJ e doutora em Meio Ambiente pelo Programa de Pós-graduação em Meio Ambiente da UERJ.
Camila da Mota Carvalho é graduada em Geologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e mestre em Geologia pela Université Paris-Saclay (Paris-XI).

Contatos:
epossan@gmail.com
comunicacao@epe.gov.br


Jornalista responsável
Ana Carvalho
Vogg Experience


A opinião dos entrevistados não reflete necessariamente a opinião da Cia. de Cimento Itambé.



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