Concreto biorreceptivo tem a capacidade de preencher fissuras do concreto
Inovação deve diminuir serviços de manutenção, mas seu elevado custo ainda é desafiador para larga escala
Pesquisas avançadas vêm buscando cada vez mais a adoção de materiais inovadores, capazes de reduzir o impacto ambiental e que tragam benefícios para toda cadeia da construção civil. Exemplo disso é o chamado concreto biorreceptivo, também conhecido como concreto biológico, autocicatrizante ou bioconcreto.
O vice-presidente da área de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtividade da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Dionysio Klavdianos, afirma que essa é uma das tendências que vai se tornar realidade, contribuindo para a inovação do setor. “O concreto biorreceptivo vai ajudar a reduzir o impacto no meio ambiente e na manutenção das estruturas, especialmente nas obras de difícil acesso, como as marítimas e em região de terremotos”, assinala.
Bactérias adicionadas ao concreto
O engenheiro do UniCuritiba, Wiliam de Assis Silva, afirma que o concreto biorreceptivo ou bioconcreto é um tipo especial de concreto que incorpora bactérias que produzem calcário (carbonato de cálcio) quando em contato com água e nutrientes específicos.
Essas bactérias são adicionadas ao concreto durante sua fabricação e permanecem em estado de dormência até que fissuras apareçam e a água entre em contato com elas, ativando-as para preencher as fissuras com carbonato de cálcio, reparando o concreto. “As bactérias mais usadas no concreto biológico são do gênero Bacillus, como Bacillus pseudofirmus e Bacillus sphaericus. Essas bactérias são escolhidas por sua capacidade de sobreviver em condições alcalinas, que é o meio predominante do concreto, e por sua eficiência na produção de calcário”, informa.
Leia também: Brasil começa a desenvolver concreto cicatrizante.
Vantagens para aumentar vida útil das estruturas
O concreto biorreceptivo apresenta algumas vantagens para as edificações. “Ele se auto-repara, melhorando a durabilidade e a vida útil das estruturas ao fechar fissuras e corrigir pequenas falhas por conta própria”, analisa Silva.
Para o pesquisador, isso pode reduzir a necessidade de reparos manuais e manutenção frequente, além de economizar recursos. Nesse contexto, o uso reduzido de recursos promove uma abordagem mais sustentável. “As bactérias são ativadas pela infiltração de água em fissuras. Em presença de água e nutrientes (geralmente lactato de cálcio), as bactérias começam a produzir calcário, que preenche e sela as fissuras. Com as fissuras fechadas, não tenderá a ocorrer a entrada de água e outros agentes agressivos, que poderiam causar corrosão das armaduras e outras manifestações patológicas que afetam o concreto”, orienta.
Com essas características, o concreto biológico pode ser interessante em diversas obras, tais como:
* Infraestruturas urbanas, como pontes e viadutos, que são suscetíveis a fissuras e desgaste;
* Construções subterrâneas, como túneis e fundações, expostas a infiltrações de água;
* Edifícios que exigem alta durabilidade e baixa manutenção;
* Estruturas marítimas, como portos e cais, onde o concreto enfrenta ambientes altamente corrosivos.
Uso da inovação em obras especiais no Brasil
No Brasil, essa tecnologia foi utilizada em obras especiais, como na laje de subpressão do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (MIS-RJ), na cobertura fluída do Museu de Arte do Rio (MAR) e nas lajes de fundo das estações Praça Nossa Senhora da Paz, Jardim de Alá e Antero de Quental, da Linha 4 do Metrô do Rio de Janeiro.
As construções que mais se beneficiam desse material são reservatórios, estruturas de saneamento e subterrâneas, como túneis e metrô.
Leia mais: https://www.cimentoitambe.com.br/concreto-cicatrizante-mostra-eficacia-em-obras-especiais/
Elevado custo de produção
O uso em larga escala do concreto biológico ainda enfrenta desafios significativos, especialmente devido à falta de testes que comprovem sua eficácia a longo prazo em diversas condições ambientais.
Segundo Silva, outro empecilho é o custo de produção mais elevado devido à necessidade de incorporar bactérias e nutrientes específicos, o que pode limitar sua adoção em larga escala, especialmente em projetos com orçamentos restritos.
Estudos atuais estão focados na melhoria da eficiência bacteriana, na otimização das formulações de nutrientes, em testes de durabilidade de longo prazo e em aplicações práticas para validar sua performance em obras reais.
“À medida que a pesquisa avança e a produção se torna mais eficiente, espera-se uma redução nos custos, tornando o concreto biológico uma alternativa sustentável e viável para a construção civil no futuro”, acredita.
Entrevistados
Dionyzio Klavdianos é engenheiro civil, graduado pela Universidade de Brasília (UnB), tem MBA em Especialização em Negócios para Executivos pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Especialização em Finanças pelo Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec). É vice-presidente de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtividade da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e ex-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF).
Wiliam de Assis Silva é graduado em Engenharia de Produção Civil pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), especialista em Gestão de Projetos em Engenharia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Com atuação profissional e docente nas seguintes áreas: Estruturas de Concreto Armado, Planejamento e Controle da Construção Civil, Gestão de Projetos, Gestão da Qualidade e Sustentabilidade, Logística e Supply Chain. Atua também como engenheiro civil no UniCuritiba.
Contatos:
comat@cbic.org.br
wiliamdeassis@gmail.com
Jornalista responsável
Ana Carvalho
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