Prédio verde: o que é isso?
Especialista mostra que conceito não é modismo e que, a longo prazo, obras que optam pela sustentabilidade tornam-se mais baratas
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Muito se fala em edifícios verdes. Mas o que é isso? Seria uma jogada de marketing das construtoras ou as obras realmente existem e são eficientes no sentido de preservar o meio ambiente? O conceito parece bom: obra ligada à sustentabilidade e à inovação tecnológica nas construções urbanas. Um dos especialistas em construção de prédios com essa marca é o engenheiro Marcos Casado, gerente-técnico do Green Building Council Brasil (GBC Brasil) – órgão que no país viabiliza os empreendimentos a obterem a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design). Ele defende que o pacote de habitação do governo federal priorize a construção de casas com sustentabilidade ambiental. Confira:
O que vem a ser um prédio verde?
Construção sustentável (Green Building) é a edificação ou espaço construído que teve na sua concepção, construção e operação, o uso de conceitos e procedimentos reconhecidos de sustentabilidade ambiental, proporcionando benefícios econômicos e de saúde, além de bem estar às pessoas.
Como está o Brasil nesse processo: já há um bom número de construções tentando atingir a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) ou o país ainda engatinha nesse setor?
O Brasil é o país que mais procura por certificação LEED na América Latina. Hoje ele ocupa a quinta posição mundial, com mais de 100 empreendimentos em processo de certificação em janeiro. Os Estados Unidos lideram com 17.377 projetos, seguido pelos Emirados Árabes (431), Canadá (273) e China (145). Na América Latina, o México se destaca em 7.° lugar, com 67 projetos, e o Chile em 14°, com 18. O GBC Brasil estima que o país chegue a 200 empreendimentos em processo de certificação no final de 2009.
Para receber a denominação de prédio verde uma obra precisa ser projetada para tal ou uma construção já pronta, que queira se transformar em prédio verde, pode atingir essa mutação?
Não só prédios novos podem conseguir a certificação. Há outras categorias como o LEED EB_OM® (Existing Building) e o LEED CI® (Commercial Interior). O LEED para interiores comerciais foi desenvolvido para garantir a alta performance dos interiores, em termos de ambiente saudável, locais de trabalho produtivos, baixo custo de manutenção e operação e redução do impacto ambiental. O LEED CI® oferece aos usuários, arquitetos de interiores e designers a possibilidade de criar ambientes sustentáveis, independentemente de não poderem atuar na operação de todo o prédio. Já o sistema de certificação LEED EB_OM® para edifícios existentes ajuda os proprietários e operadores a medir suas operações, fazer melhorias na manutenção em uma escala consistente, com o objetivo de maximizar a eficiência operacional e minimizar os impactos ambientais. O LEED EB_OM® aborda em todo o edifício questões de limpeza e manutenção (incluindo uso químico), programas de reciclagem, programas de manutenção exterior e atualização de sistemas, podendo ser aplicado tanto para edifícios existentes, que procuram a certificação LEED EB® pela primeira vez, quanto para projetos previamente certificados no âmbito de outros Sistemas de Certificação LEED® como LEED NC®, LEED School®, LEED CS® e LEED EB® (em caso de renovação).
Quando se fala em prédio verde, imagina-se uma obra cara. Há um equívoco aí ou a obra dentro dos parâmetros de sustentabilidade realmente se torna cara?
Podemos construir mais sustentavelmente sem gastar mais. Dependendo do grau de sofisticação do ponto de vista de sustentabilidade, os custos poderão ser maiores. Nos Estados Unidos, estudos estatísticos indicam que podemos gastar em média de 1% a 7% a mais. No Brasil, temos uma tendência de gastar de 5% a 10% a mais em edifícios comerciais e 2 a 4% a mais nos residenciais. Mas sempre teremos retorno econômico.
O governo acena com a possibilidade de construir um milhão de habitações populares até 2010. De que forma essas casas poderiam se adaptar aos padrões de “casa verde” sem onerar demais a obra?
Vários itens deste critério de certificação poderiam ser introduzidos a estas construções sem necessariamente envolver custos adicionais, bastando somente o conhecimento e vontade em praticá-los. São eles: sistemas de reuso de água pluvial, sistemas de aquecimento solar, ventilação e iluminação natural, acessórios de redução do consumo de água (torneiras de fechamento automático, válvulas de descarga com duplo fluxo, etc). Poderia ainda ser implantado planos de gerenciamento de resíduos, que gerariam retornos financeiros para os canteiros, além de materiais e tecnologias que agridam menos o meio ambiente, como tintas e materiais sem COV´s, lâmpadas e equipamentos econômicos, materiais reciclados ou com conteúdo reciclado como o cimento CPIII ou CPIV, e que também geram menos CO2 na sua produção.
A respeito dos profissionais da engenharia civil, como está a adaptação deles a esse processo?
Hoje este assunto ainda é pouco explorado nas universidades, portanto estamos com um projeto educacional que envolve cursos de aperfeiçoamento, cursos de pós graduação, cursos de especialização e cursos de MBA, junto a diversas universidades e instituições, no intuito de divulgar e treinar estes profissionais com relação aos conceitos da construção sustentável.
E o consumidor final, já se dá conta de optar por construções com o selo LEED ou ainda acha isso modismo e no final opta pelo mais barato?
A construção civil começa a demonstrar que está se adequando cada vez mais aos conceitos de sustentabilidade que estão sendo impostos em todos os setores da economia e que a cada dia passam a ser uma exigência da sociedade, principalmente da nova geração. Os mais jovens estão começando a exigir de seus fornecedores uma postura mais correta em relação ao meio ambiente, desenvolvendo um dos maiores desafios corporativos deste milênio: o consumo consciente. Consultores, grandes construtoras de imóveis, empreendedores e incorporadores, tanto comerciais quanto residenciais, fornecedores de materiais, insumos e tecnologias, estão aos poucos desenvolvendo expertise nessa área. Trata-se de um movimento que ganhou força nos últimos cinco anos e que hoje já começa a criar uma nova demanda no mercado da construção civil no Brasil. Diria que a construção sustentável veio para ficar.
No âmbito dos prédios públicos, os governos estão comprometidos com a sustentabilidade ou ainda não acordaram para isso?
Também estamos trabalhando junto aos órgãos públicos na disseminação destes conceitos e hoje já temos três prédios públicos buscando esta certificação.
Mas é na iniciativa privada que hoje se acham os melhores exemplos de prédios verdes no país?
Sim. No setor privado existem vários emprendimentos em operação que já receberam a certificação. Em São Paulo e Rio de Janeiro, cito a agência do Banco Real; em Granja Viana; a unidade Delboni Auriemo – Dumont Villares, e o Prédio da Universidade Petrobras. Há ainda a loja do Pão de Açúcar, em Indaiatuba, o Ventura Towers e o Eldorado Business.
No mundo, qual o país que está mais voltado para esse tipo de construção?
Os Estados Unidos são os mais avançados, até porque foi lá que a certificação LEED foi desenvolvida. Nos Estados Unidos há mais de 1.500 empreendimentos já certificados e mais de 17.300 em processo de certificação. Há ainda os países europeus, que utilizam outros sistemas de certificação, como Alemanha e Reino Unido.
A crise global não pode acabar prejudicando esse conceito de prédio verde, já que os recursos tornaram-se mais escassos?
Muito pelo contrário, pois é neste momento de crise que devemos procurar formas de redução e corte de despesas. E nada melhor do que ocuparmos estes empreendimentos que, além de todo o valor de marketing e benefícios ambientais, também geram grandes economias operacionais para seus ocupantes. Em contrapartida, para os empreendedores, este é um diferencial importante na venda e comercialização destes imóveis.
· Um empreendimento sustentável pode reduzir em 30% o consumo de energia, 50% o consumo de água, 35% das emissões de CO2 e até 70% o descarte de resíduos.
Fonte: Green Building Council Brasil (GBC Brasil)
Jornalista responsável Altair Santos MTB 2330 Tempestade Comunicação.
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