Como será o concreto do futuro?
Mercado busca materiais com maior durabilidade e com o mínimo de manutenção
Quais são as principais tecnologias relacionadas ao uso do concreto? Durante a Concrete Show, Bernardo Fonseca Tutikian, professor e pesquisador da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS-RS) e diretor de Pesquisa e Desenvolvimento do Instituto Brasileiro do Concreto (IBRACON), falou sobre concretos especiais – futuro e do presente – e que apresentam tecnologias inovadoras.
“Estes materiais correspondem ao que tem se buscado no mercado: aumentar a durabilidade dos produtos com o mínimo de manutenção possível”, ressalta Tutikian.
Conheça os concretos que devem se destacar nos próximos anos:
Concreto Têxtil
É um concreto que tem sido muito usado na Europa, principalmente na Alemanha e em países frios. “Nestes lugares, há muita corrosão na armadura uma vez que usam o sal para desgelar estradas, pontes e viadutos e a durabilidade costuma ser mais baixa. O concreto têxtil basicamente substitui a armadura por um têxtil. São colocados tecidos dentro do concreto como reforço interno e vai ser um material sem corrosão e muito mais leve. Temos uma matriz cimentícia que envolve o têxtil e posiciona as fibras nos locais mais solicitados”, explana Tutikian.
De acordo com o professor e pesquisador, ele é mais eficiente que um concreto com fibras curtas. “Como estas fibras estão dispersas, elas não exploram o reforço de uma maneira integral e a capacidade de carga aumenta um pouco”, justifica.
Ainda, uma das grandes vantagens do concreto têxtil é que é possível utilizar diferentes urdiduras (entrelaçamentos de fios) e tramas conforme a necessidade, possibilitando atingir um melhor custo-benefício.
Para o uso deste método, a matriz cimentícia precisa ter uma alta fluidez, resistência à compressão de 50 MPa, isto é, precisa ter uma boa qualidade. “É preciso ter um alto preenchimento, envolver muito bem o tecido, para poder proteger bem”.
Este tipo de concreto está sendo muito usado em painéis de fachada, especialmente na Alemanha. “Lá, até 2025, há uma lei que proíbe que o governo faça obras públicas de concreto armado com materiais metálicos”, completa Tutikian.
Concreto autorregenerante
Muito famoso hoje em dia, ele se auto cicatriza, como acontece no corpo humano. “Ele funciona para pequenas fissuras de retração decorrentes de vida útil. Este concreto vai se regenerando e mantendo a durabilidade da estrutura sem intervenção. No caso de uma ponte ou viaduto, em que há movimentação, ele se autorregenera, evita a entrada de agentes agressivos e tem uma durabilidade elevada. Por outro lado, se fosse no concreto tradicional, seria necessário fazer uma obra, parar o trânsito para poder recuperá-lo”, descreve Tutikian.
Há dois tipos de mecanismos de concreto cicatrizante:
– Autogênico: usa componentes que já se utilizam no concreto, como cimento e substituições pozolânicas.
– Autônomo: os materiais que o concreto não usa convencionalmente se agregam para proporcionar uma maior capacidade de autocura, como o silicato de cálcio, agregados leves, agentes expansivos, aditivos químicos e soluções bacterianas.
O mais comum é pelo uso de aditivos cristalizantes, que são formados por compostos microscópicos e químicos que reagem com o Ca(OH)₂ formando produtos cristalinos. “Estes produtos são adicionados ao concreto na estrutura por aspersão e eles vão cristalizar”, explica Tutikian.
No Brasil, o Museu da Imagem e do Som e o Museu de Arte do Rio, ambos no Rio de Janeiro, usaram concretos autocicatrizantes. “São tecnologias relativamente baratas e fáceis de aplicar”, opina Tutikian.
Ao usar esta tecnologia, só é preciso ter cuidado que não são todas as fissuras que são tratáveis com este tipo de concreto. “Geralmente funciona com aquelas que têm até 0,5 mm. Também ainda é necessário se estudar quanto tempo o produto de selagem permanece por ali, isto é, a viabilidade da autocura com o tempo”, alerta Tutikian.
Concreto de ultra alto desempenho (UHPC)
Trata-se de um concreto fluído, de alto desempenho, e que se auto compacta através do seu peso próprio, com fibras curtas. As peças produzidas através desta técnica são comparáveis àquelas de metal e aço. “O concreto de ultra alto desempenho tem alta fluidez, durabilidade e resistência mecânica. É uma mistura do concreto de alto desempenho, do reforçado com fibras e do autoadensável. É um dos concretos mais eficientes que temos hoje em dia”, pontua Tutikian.
Os constituintes deste tipo de concreto são predominantemente finos, onde o tamanho máximo dos grãos é de 3 mm.
Além disso, a utilização de fibras neste tipo de concreto é de fundamental importância. “Elas auxiliam no controle de diversas retrações que podem ocorrer e também na capacidade de suportar elevadas cargas, sofrendo baixas deformações”, afirma Tutikian.
O professor e pesquisador também explica que, embora seja um material caro, como ele é muito eficiente, é possível usar menores quantidades. “Há uma empresa que utiliza esta tecnologia para construir habitações sociais para o programa Casa Verde Amarela, justamente pelo fato de ser mais eficaz. Então, é necessário um volume menor na construção”, expõe Tutikian.
Pesquisadores atuam para Brasil ter norma técnica de UHPC
Entrevistado
Bernardo Fonseca Tutikian é professor e pesquisador da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS-RS) e Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento do Instituto Brasileiro do Concreto (IBRACON).
Contato
office@ibracon.org.br
Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP
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