Burocracia pode custar R$ 59,1 bi ao setor de construção até 2025
Dentre os maiores desafios estão o tempo para aprovação de documentos e acompanhamento dos processos
No Brasil, a burocracia no setor de construção pode custar R$ 59,1 bilhões a empresas e ao governo até 2025 em potenciais ganhos desperdiçados. Isto é o que mostrou o estudo “Burocracia na construção: o custo da ineficiência nos processos”, da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), elaborado pela Deloitte.
A pesquisa foi conduzida durante os meses de março e abril de 2023 e ouviu 40 executivos das maiores empresas atuantes nos setores de Construção Imobiliária e de Infraestrutura no Brasil. Além disso, foram consultados líderes de órgãos públicos e cartórios com o objetivo de identificar os principais desafios de natureza burocrática que impactam os projetos de construção no país.
Maiores entraves
De acordo com o estudo, na Construção Imobiliária, 74% dos entrevistados citam o tempo para aprovação de documentos nas prefeituras como maior problema, devido à falta de previsibilidade e planejamento e à necessidade de frequentes revisões. Já no setor de Infraestrutura, em que a espera pode se prolongar por até sete anos, 78% consideram o prazo demorado nos órgãos públicos como o maior entrave.
Para Milton Bigucci Junior, diretor técnico da MBigucci e presidente da Associação dos Construtores do Grande ABC, o tempo de aprovação de projetos é realmente algo que custa muito dinheiro. “Eu costumo falar que é mais rápido você construir o prédio efetivamente do que você aprovar os documentos dessa edificação. Para construir um prédio de 15 andares e 100 apartamentos, você faz isso em 18-20 meses. E para você aprovar uma edificação às vezes demora um ou dois anos para aprovação e depois mais alguns meses para retirar o certificado de conclusão. Fora as documentações no meio do caminho que você precisa apresentar. Essa burocracia é muito desgastante”, declara.
68% dos respondentes do setor de Construção Imobiliária afirmaram ter dificuldade no acompanhamento do processo e da documentação nos órgãos públicos, isto é, onde ficam retidos para assinatura, revisão ou aprovação. Já no setor de Infraestrutura, este índice foi de 43%.
Outro ponto levantado na pesquisa foi com relação à insegurança jurídica, causada pela falta de clareza quanto às legislações (ou pelo excesso delas), pela possibilidade de diferentes interpretações ou pelas mudanças constantes. 63% dos entrevistados de Construção Imobiliária indicaram ter essa dificuldade, enquanto 57% dos executivos de Infraestrutura veem este ponto como um dos principais desafios.
Ainda, outro desafio recorrente do setor é o desalinhamento entre órgãos e esferas públicas. Este tópico foi apontado por 53% dos entrevistados de Construção Imobiliária e 65% dos de Infraestrutura. No setor de Construção Imobiliária, 32% dos entrevistados apontaram a lentidão nos procedimentos de regularização como um desafio, enquanto no setor de Infraestrutura, esse problema foi mencionado por 74% dos participantes.
Outro exemplo de situação burocrática vem de Reinaldo Kaiser, fundador da Custo Real. “Houve um atraso no pagamento de uma medição do fundo que estávamos recebendo via CRI, por conta da falha na comunicação entre securitizadora, jurídico e companhia. Essa má comunicação entre os envolvidos desencadeou uma demanda para o cartório e sabemos que ali tudo é moroso. Isso afetou totalmente o canteiro da obra, onde paralisou a programação das atividades pois não tinha recurso para execução. Atrasando mais de 30 dias, pois a retomada não é eficaz. Só nesse caso específico foram mais de R$ 450 mil de prejuízo, pois a retomada da obra no ritmo que ela estava antes da paralização costuma ser crescente, ou seja, não é da noite para o dia que volta a velocidade que estava, pois contratações têm que ser refeitas, equipes realocadas e fornecedores reativados.”, explica.
A paralização de obras costuma ser uma grande questão para os empresários do setor. “Às vezes nós temos, por exemplo, obras previstas para iniciar no mês de fevereiro. E elas simplesmente não começam porque você não conseguiu aprovar o projeto. Aí você tem uma equipe de obra pronta para começar e você não pode dispensá-la porque daqui a dois, três ou quatro meses, essa obra vai ser aprovada e você vai precisar desse pessoal. Se você dispensá-los, para depois contratar outra equipe, é preciso treinar, colocá-la dentro da cultura da sua empresa, isso leva tempo e custa dinheiro. Então às vezes é mais vantajoso manter essa equipe, e você encaixa as pessoas em algumas outras obras, enfim, sem muita necessidade. No final, tudo isso aumenta o custo também”, aponta Bigucci.
Transformação digital como solução
As tecnologias digitais são um caminho apontado pelo estudo para transformar os processos. De acordo com a pesquisa, 33% das organizações já experimentaram processos completamente digitais e que reportaram melhora significativa no tempo de aprovação. Já 19% disseram ter feito o processo completamente digital, sem notar melhora significativa. Para 26%, a digitalização não representa, de fato, redução da burocracia, já que a quantidade de etapas e documentos ainda é elevada.
“Eu sou um entusiasta da parte de softwares, digitalização e tecnologia da informação, porque isso traz a agilidade que o empresário precisa para poder produzir e gerar emprego, pagar impostos, tudo certinho. E isso às vezes demora muito para acontecer devido a esse problema muito sério de burocratização que nós temos aqui”, pontua Bigucci.
Entrevistado
Milton Bigucci Junior é diretor técnico da MBigucci e presidente da Associação dos Construtores do Grande ABC.
Reinaldo Kaiser é fundador da Custo Real.
Contato
Milton Bigucci Junior: imprensa@mbigucci.com.br
Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP
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