Logística reversa é mais educação que estratégia
Além do aprimoramento da legislação brasileira, é importante o envolvimento de toda a cadeia produtiva do setor
A logística reversa é um tema ainda recente para a construção civil brasileira, mas trata-se de estratégia industrial com mais de 60 anos. Começou no pós-guerra. Para reconstruir as cidades europeias, o Plano Marshall já previa a reciclagem de escombros para gerar materiais que pudessem ser reutilizados nas obras ou minimizassem o consumo de energia. Ao longo das décadas, a logística reversa consolidou-se na Europa e em outros países desenvolvidos, graças à educação. Nas escolas de engenharia, se tornou disciplina e, desde a graduação, os engenheiros em fase de formação sabem que devem usá-la no canteiro de obras.
No Brasil, o mestre em engenharia de materiais, Celso Luchezzi, admite que falta a cultura da logística reversa dentro da construção civil do país. “É preciso educar desde o engenheiro em formação até o incorporador e o construtor. Hoje existe uma série de gaps dentro da política de logística reversa praticada no Brasil. Isso fez com que no período de 2008 a 2017 o Brasil deixasse de reciclar 270 milhões de toneladas de resíduos de construção. Esse número envolve apenas o que conseguiu ser rastreado. Então, não se trata apenas de uma questão ambiental, mas de uma questão econômica para o país”, alerta.
Dados de organismos como Conselho de Logística Reversa do Brasil (CLRB) e Associação Brasileira de Logística (Aslog) revelam que o país produz cerca de 30 milhões de toneladas de resíduos por ano com potencial para serem reciclados e retornar na forma de material de construção para os canteiros de obras. “O resíduo é uma mina de ouro. Pode se tornar areia, pedrisco, rachão, mas também gerar outros novos produtos”, ressalta Celso Luchezzi, que é o autor do livro “Logística reversa na construção Civil – Um mundo de oportunidades”. “No livro, mostro que é importante as empresas mudarem a forma de olhar para os resíduos da construção civil, pois eles podem ser reprocessados e voltarem à cadeia produtiva com um custo menor”, completa.
Deliberação traz luz a sistemas modernos de logística reversa
Apesar da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) ter sido instituída em 2010, faltava que o CORI (Comitê Orientador para Implementação de Sistemas de Logística Reversa) disciplinasse os sistemas de logística reversa e estabelecesse quais as abrangências municipal, estadual e federal dentro da PNRS. Isso só ocorreu em setembro de 2017, por meio da deliberação número 11, assinada em conjunto pelos ministérios de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, da Fazenda e da Saúde.
A expectativa é de que a nova regra do CORI faça com que os setores industriais vejam janelas de oportunidades na logística reversa e não deixem que os “catadores” sigam protagonizando a coleta e a reciclagem. “Afinal, reciclagem e logística reversa de verdade, requerem investimento, automação, tecnologia e regras claras de mercado, alem de políticas públicas modernas e eficientes”, escreve o advogado Antonio Fernando Pinheiro Pedro, membro do Conselho Consultivo da União Brasileira de Advocacia Ambiental.
Entrevistado
– Celso Luchezzi, mestre em engenharia de materiais, consultor e coaching, e autor do livro “Logística reversa na construção Civil – Um mundo de oportunidades”
– Reportagem também usou informações do artigo “Nova regulação sobre a logística reversa”
Contato: luchezzi@luchezzi.com
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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