Resíduo de concreto vira aliado do “pavimento verde”
Estudo desenvolvido na UTFPR mostra que transformação de RCD em agregado para estradas vicinais gera ganhos ambientais e econômicos
Estudo desenvolvido na UTFPR mostra que transformação de RCD em agregado para estradas vicinais gera ganhos ambientais e econômicos
Um dos gargalos da construção civil no quesito sustentabilidade passa pela destinação do RCD (Resíduos da Construção e Demolição). Mas há soluções. Uma delas é apontada pelo engenheiro florestal Marcelo Langer, conforme pesquisa desenvolvida por ele na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). O estudo mostra as vantagens do uso do RCD na pavimentação de estradas rurais. Na entrevista a seguir, Langer explica como. Confira:
O senhor desenvolveu um estudo em 2015 sobre o uso de resíduos da construção para pavimentar estradas rurais. Houve a aplicação prática da pesquisa?
O estudo que desenvolvi entre os anos de 2014 e 2015 foi o resultado de implantações práticas que desenvolvi ao longo de mais de 20 anos como gestor florestal. Especificamente, para o trabalho desenvolvido durante curso de especialização em Construções Sustentáveis na UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), fiz a implantação e acompanhamento técnico por um ano em uma área florestal na cidade de Arapoti-PR, e em um condomínio residencial em São José dos Pinhais-PR. No primeiro, utilizei os Resíduos da Construção e Demolição (RCD) transformados em Agregados de Resíduos de Concreto (ARC) por meio de usina móvel. No segundo, utilizei os RCD transformados em Agregados de Resíduos Mistos (ARM) produzidos em usina fixa.
Em quais trechos das estradas rurais de Arapoti-PR o pavimento alternativo foi aplicado e quais ganhos foram obtidos?
Houve a aplicação em trechos de estradas florestais, estradas municipais e estaduais da zona rural. Também foi aplicado em trevos de acesso e saída de máquinas e veículos, além de levantamento da base de estradas, cabeceiras de pontes, construção de bueiros e outras estruturas de rodagem. Foi empregado ainda para a formação de base para estradas localizadas em terrenos de elevado acúmulo hídrico. No condomínio em São José dos Pinhais-PR, foi usado para a construção de estacionamentos, calçadas, quadras esportivas e áreas de lazer.
E quanto aos ganhos obtidos?
Os ganhos foram os seguintes:
– Reaproveitamento dos resíduos, transformando-os em ARM e ARC, aumentando o ciclo de vida e atendendo aos princípios da sustentabilidade, economia circular e a Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS);
– Redução da contaminação ambiental, da poluição sólida a ambientes rurais e urbanos, do uso de matéria-prima natural (cascalhos) e de custos operacionais;
– Redução da perda de partículas sólidas dos leitos de estradas em períodos chuvosos e, como consequência, redução da contaminação dos rios e corpos hídricos;
– Compatibilidade técnica, pois a capacidade de agregação dos materiais ARM e ARC às partículas do solo foi comprovada, gerando uma camada de cobertura resistente e adequada aos níveis de volume e carga de trafegabilidade;
– Resistência dos ARM e ARC após um ano de fluxo intenso de veículos, tanto de passeio como de cargas pesadas, e também às intempéries climáticas.
Além da questão da sustentabilidade, quais as vantagens de se pavimentar estradas vicinais com resíduos da construção?
Normalmente, os RCD são materiais que geram custos para as empresas da construção civil, pois necessitam ser descartados corretamente em locais adequados e ambientalmente licenciados. Para isso, há taxas e custos de transporte e descarte. Utilizando o sistema de transformação dos RCD em ARM e ARC, se evitam os custos e passa-se a ter uma nova matéria-prima para um novo sistema produtivo. Em breve, os resíduos resultantes da construção e demolição deverão se tornar matéria-prima e oportunidade de negócios para muitas empresas no Paraná e no Brasil.
Os resíduos da construção são o calcanhar de Aquiles do setor, no que se refere à destinação. A aplicação dos resíduos para pavimentar estradas é a solução?
Os resíduos de qualquer setor produtivo se tornam problema quando não gerenciados e quando não é compreendido seu potencial econômico. Como exemplo, em um grande edifício residencial na cidade de São Paulo-SP, onde realizei o levantamento dos custos da gestão dos RCD para pagamento de taxas, serviços de transportes e uso de locais para a destinação final, o valor destes custos foi da ordem de 4 milhões de reais. Isso, sem considerar as perdas e desperdícios identificados no processo construtivo convencional. Por outro lado, as empresas agroflorestais têm custos anuais elevados para a aquisição de cascalhos e outros materiais de revestimento, a fim de assegurar a trafegabilidade das estradas rurais. Então, por que não promover este diálogo e integração entre o setor da construção civil, agroflorestal, governos e sociedade, por meio do uso dos RCD, ARM e ARC, que possuem custos inferiores à aquisição de outros materiais naturais com alto impacto ambiental e elevados benefícios socioambientais? O ganho é para todos.
É possível saber o quanto é necessário de resíduos para pavimentar um quilômetro de estrada vicinal?
Depende de várias condições. Entre elas, as condições do terreno, sua declividade, tipo do solo e do material a ser empregado, além de precipitação pluviométrica média no local, trafegabilidade, intensidade e volume de cargas, largura e classificação de uso do modal. Seria imprudente afirmar qualquer quantia, mas é possível fazer o seguinte exercício para um recapeamento simples, sem base e outras infraestruturas necessárias para a edificação correta e sustentável de uma estrada rural: em um modal de um quilômetro de extensão, com cinco metros de largura média, onde normalmente se emprega uma camada de 20 centímetros de material de cobertura, serão necessários mil metros cúbicos de ARM ou ARC para o recapeamento.
É possível estimar o volume de resíduos de construção e demolição (RCD) que é gerado no Brasil anualmente?
A indústria da construção civil, em seu processo produtivo, gera perdas estimadas em 150 quilos de resíduos por metro quadrado, e cerca de 75% dos resíduos gerados pela construção nos municípios provêm de descarte de reformas e demolições, geralmente realizadas pelos próprios usuários dos imóveis. A Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE) informou que em 2014 foram coletados cerca de 45 milhões de toneladas de RCD, aproximadamente 55% de todo o Resíduo Sólido Urbano (RSU), apresentando aumento de 4,3% em relação aos volumes coletados em 2013. Em 2010, na cidade de Curitiba, segundo a secretaria municipal de meio ambiente, o volume de RCD foi de 2.400 t/dia (toneladas por dia). No Paraná o volume de resíduo da construção civil se aproxima a 17.000 t/dia. De acordo com o relatório de pesquisa setorial 2014/2015 da Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil (ABRECON), a produção de RCD é de aproximadamente 500 quilos por habitante/ano. Considerando a população brasileira em 2014, o volume de RCD gerado por ano no país é de cerca de 101.399.759 t/dia.
Entrevistado
Doutor em engenharia florestal Marcelo Langer, com experiência em gerenciamento de operações, gestão de recursos naturais, florestais e engenharia de produção. Também é especialista em certificações ambientais, sociais e econômicas (FSC, ISO, LEED, Aqua)
Contato: malanger04@yahoo.es
Crédito Fotos: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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