Competitividade internacional do Brasil virá de trem
Para melhorar principalmente o escoamento da produção de grãos, país precisou investir R$ 25 bilhões na reestruturação de sua malha ferroviária
Para melhorar principalmente o escoamento da produção de grãos, país precisou investir R$ 25 bilhões na reestruturação de sua malha ferroviária
Por: Altair Santos
Professora-doutora da Escola Politécnica da USP, Liedi Legi Bariani Bernucci é especialista em infraestrutura de transportes e aponta que o Brasil só conseguirá ter competitividade internacional se consolidar sua malha ferroviária. Ela lembra que a opção pelo modal rodoviário foi um erro estratégico, com o qual o país convive desde os anos 1950. “Parar de investir em ferrovias prejudicou também o sistema rodoviário nacional”, diz a especialista.
Para ela, os investimentos devem priorizar o escoamento de grãos dos estados com grande produção agrícola para os portos. Liedi Legi Bariani Bernucci destaca quatro ferrovias que precisam não apenas ser finalizadas, mas interligadas. São a Norte-Sul, a transnordestina, a FICO (Ferrovia de Integração do Centro-Oeste) e a FerroGrão, entre Sinop-MT e Marituba-PA. Na avaliação da professora da USP, a conclusão dessas obras só se viabiliza se houver investimento privado.
A especialista entende que, apesar do grande aporte de investimento em obras, os recursos destinados para a reestruturação da malha ferroviária nacional vão gerar economia ao país. “São investimentos de bilhões de reais, mas que também trarão economia de bilhões de reais”, diz. De acordo com Liedi Legi Bariani Bernucci, a economia virá através da redução da perda de grãos e na conservação das rodovias, já que o impacto dos veículos pesados sobre as estradas irá diminuir.
De acordo com dados da Confederação Nacional do Transporte (CNT), a má qualidade do pavimento das rodovias brasileiras impõe perda anual de R$ 3,8 bilhões ao transporte de cargas no Brasil. “É preciso atacar isso, pois não adianta ter eficiência na produção agrícola se não existe uma forma de transporte que seja eficiente e minimize perdas”, alerta a professora da Escola Politécnica da USP.
Mais capacidade de transporte
Levantamento da Associação Nacional dos Transportes Ferroviários (ANTT) revela que a extensão e a modernização da malha ferroviária nacional precisam de investimentos na ordem de R$ 25 bilhões. São recursos que vão aumentar o potencial de transporte do país e permitir que o volume de cargas cresça 32% em dez anos. O estudo da ANTT avalia que o Brasil irá aumentar em 430 bilhões a capacidade de toneladas transportadas por quilômetro útil (TKU) com o aprimoramento e a ampliação de suas ferrovias.
Segundo Liedi Legi Bariani Bernucci, o aumento da competitividade e o retorno financeiro que as ferrovias podem trazer aos investidores dificilmente deixarão de atrair capital estrangeiro. “O montante de dinheiro é expressivo e é necessário atrair investidores privados, pois até as ferrovias que estão prontas precisam se modernizar. Carajás, por exemplo, carece de duplicação”, diz.
A professora da USP alerta ainda que o país deveria priorizar o transporte ferroviário de grãos, para depois investir em ferrovias que atendam a produção de minérios, petróleo e cana de açúcar. “A produção de grãos é o grande mercado brasileiro hoje. E ela só tende a crescer se puder escoar por trilhos, em vez de estradas”, conclui. O país tem atualmente 29.817 quilômetros de ferrovias, contra 36 mil que existiam na década de 1950. Os Estados Unidos são líderes mundiais neste modal, com 226.427 quilômetros.
Clique aqui e ouça a entrevista da professora-doutora Liedi Legi Bariani Bernucci
Entrevistados
– Engenheira civil e professora-doutora da Escola Politécnica da USP, Liedi Legi Bariani Bernucci (base em entrevista à rádio USP)
– Associação Nacional dos Transportes Ferroviários (ANTT) (via assessoria de imprensa)
Contatos
liedi.bernucci@gmail.com
ascom@antt.gov.br
Crédito Foto: Flickr
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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