Exportar é a saída para fabricantes da construção civil
Produtos brasileiros têm mercado, principalmente na América Latina e nos Estados Unidos, mas é preciso estar atento à burocracia e à logística
Produtos brasileiros têm mercado, principalmente na América Latina e nos Estados Unidos, mas é preciso estar atento à burocracia e à logística
Por: Altair Santos
Diante da retração do mercado interno, fabricantes de materiais para a construção estão em busca de clientes no exterior. Os produtos brasileiros, como cimento, artefatos de concreto, cerâmicas e porcelanatos, além de canos e peças hidráulicas, têm bom conceito de qualidade no exterior. A desvalorização do real diante o dólar também serve de estímulo para as exportações. Mas é preciso estar atento às exigências de determinados países para conseguir atendê-los.
Os Estados Unidos, por exemplo, com um mercado de 320 milhões de consumidores em potencial, exigem não apenas que o produto esteja adequado às suas normas, mas verificam também a estrutura das empresas. Para se adequar, o recomendável é que a companhia faça um levantamento do mercado, planeje e avalie economicamente e financeiramente se é viável competir lá fora. Veja as recomendações de Alcides Rocha, especialista em governança corporativa, planejamento empresarial e finanças:
Em recente artigo escrito pelo senhor há uma defesa pela exportação. No caso da construção civil, ela tem potencial para exportar?
Acredito que sim. Tendo um bom produto, qualidade e preço competitivo, existe espaço sim. Cabe analisar o segmento e mostrar o melhor caminho para exportar sem sustos e com eficiência.
Potencialmente, quais países teriam perfil para consumir o que a indústria da construção civil produz no Brasil?
Acredito que inicialmente os países da América Latina, pela proximidade e “baixo” custo de logística. O mercado norte-americano também, pela alta escala e pelo consumo alto. Nossa construção civil é bastante desenvolvida e pode sim conquistar espaço em outros países.
Estamos falando, obviamente, de exportações de materiais de construção e produtos de acabamento. Mas haveria espaço para o Brasil exportar projetos, sistemas construtivos, enfim, tecnologia da construção civil para outros países?
Desde que sejam inovadores e eficientes, sim. Os consumidores de qualquer país buscam inovação, sustentabilidade, rapidez e respeito ao ambiente. Só quero destacar, que a empresa deve estudar o mercado, as normas técnicas de cada país e ter um plano logístico adequado.
E mão de obra, o Brasil tem potencial para exportá-la?
Sim, porém de forma mais restrita. Acredito que temos como exportar mão de obra para serviços mais “artísticos”, como marmorista e jardinagem. Não vejo serviços básicos como exportáveis.
O envolvimento de grandes empreiteiras brasileiras com a Operação Lava Jato prejudicou o potencial do Brasil de exportar construção civil?
Infelizmente sim. Não só na construção civil, mas em todos os segmentos. Quando expomos esse tipo de falta de governança em nossas maiores corporações, nossa imagem como nação fica arranhada.
A burocracia para exportar não desestimula a tentativa de buscar negócios fora do país?
De certa forma sim. Mas se a empresa buscar uma consultoria focada nesse tipo de serviço de apoio às corporações que querem exportar tudo fica mais fácil. Por isso, um planejamento adequado para “levar” a empresa para fora das nossas fronteiras reduz tempo, racionaliza o investimento e traz resultados mais rápidos.
Quais setores da economia brasileira estão se mantendo aquecidos graças à exportação?
O agronegócio, e a indústria de tecnologia estão aproveitando a desvalorização da nossa moeda.
O Brasil não tem tanta tradição de exportar serviços. Como reverter esse cenário?
Essa é uma missão de longo prazo, pois envolve qualificação da mão de obra e a barreira do idioma. Além disso, as leis trabalhistas são extremamente diferentes das brasileiras, o que pode gerar um ponto de conflito entre empregado e empregador.
Entre o desejo de exportar e a concretização da exportação, quantas etapas devem ser superadas?
Tudo começa com um planejamento bem feito, que envolve análise de mercado, produto, preço, legislação & obrigações e análise SWOT (do inglês Strengths, Weaknesses, Opportunities e Threats [Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças]). Trata-se de um trabalho completo, similar ao de abertura de uma empresa.
Qual a influência do preço do dólar nas exportações brasileiras, independentemente do setor?
Nos ajuda, pois com o Real enfraquecido nosso preço fica competitivo frente ao produto americano. Mas isso somente não basta. Lembro que o consumidor está cada vez mais exigente e quer produtos de boa qualidade, com bom preço e inovador. Por isso, a empresa tem que manter um excelente padrão de qualidade para se sustentar entre os melhores do mercado interno, e para ter condições de “entrar” nesse competitivo mercado mundial.
Entrevistado
Alcides Rocha, graduado em administração de empresas e pós-graduado em planejamento empresarial e finanças, é especialista em governança corporativa e presidente da Finance365
Contato: alcides.rocha365@outlook.com
Créditos Fotos: Divulgação/Finance365
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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