Na crise, ainda há vagas para engenheiros?
Versatilidade da profissão, principalmente para atuar nas áreas comercial, pesquisa & desenvolvimento e manutenção, ajuda a manter mercado aquecido
Versatilidade da profissão, principalmente para atuar nas áreas comercial, pesquisa & desenvolvimento e manutenção, ajuda a manter mercado aquecido
Por: Altair Santos
Os anos 1980 e 1990 foram considerados períodos perdidos para os engenheiros. Graduados não encontravam trabalho dentro da construção civil e foram migrando para outros segmentos. O setor financeiro absorveu boa parte, enquanto outros profissionais migraram para a área de prestação de serviços e até a gastronomia.
Hoje, depois de um período de efervescência, que fez com que os cursos de engenharia civil voltassem a estar entre os mais procurados por jovens, a profissão corre o risco de dar passos atrás. A crise econômica, que congela obras, combinada com a operação Lava Jato, a qual paralisa as principais empreiteiras do país, gera incógnitas sobre o futuro do mercado de trabalho no setor.
A pergunta que fica é: ainda há vagas para engenheiros? O especialista em recursos humanos, João Xavier, diretor-geral da Ricardo Xavier Recursos Humanos, responde essa, e outras perguntas, diante do atual cenário nacional. Confira:
Na crise, ainda há vagas para engenheiros?
Sim. Sempre haverá boas oportunidades para os engenheiros. Três áreas são promissoras para os profissionais da engenharia: comercial, onde os engenheiros são necessários para realizar vendas técnicas; Pesquisa & Desenvolvimento, diante da necessidade constante de inovação, e na manutenção, que apesar de estar sentindo fortemente o impacto, é atividade essencial para as indústrias e grandes instalações comerciais. As áreas mais impactadas são as ligadas à produção, principalmente os setores metalúrgico, automotivo, óleo e gás e construção civil.
Quais engenharias encontram sustentabilidade no mercado de trabalho neste período?
Eu colocaria as seguintes áreas: computação, controle e automação, mecatrônica, química, elétrica, biomédica, agronômica, minas, energia, mecânica, aeronáutica, naval, industrial e ambiental. Mas podemos dizer que, de modo geral, todas as engenharias encontram sustentabilidade. São os engenheiros os responsáveis por engendrar as ideias.
No caso da engenharia civil, durante a fase efervescente da construção civil, chegaram a faltar profissionais. Hoje, qual o cenário?
Na verdade nunca faltaram profissionais no mercado. O que acontece é que as empresas não estão dispostas a pagar o preço por bons profissionais. No momento em que a economia fica aquecida, esse fenômeno aparece com maior intensidade. Hoje, com o mercado desaquecido, a pressão sobre os salários é ainda maior. Portanto, há menos oportunidades e menores salários.
O curso de engenharia civil voltou a ser um dos mais procurados pelos jovens. É possível que ao se formar eles encontrem um mercado de trabalho hostil?
O mercado de trabalho é hostil para qualquer área. Sempre há um jogo de forças entre o capital e o trabalho. Hoje, o que está se valorizando é o trabalho criativo, independentemente da área. É o trabalho com Pesquisa & Desenvolvimento, é o trabalho de inovação. Esse nunca poderá ser substituído por máquinas ou pelo computador. A engenharia civil é bastante ampla e versátil, com oportunidades em projetos (das mais diversas naturezas), obras, manutenção e facilities (instalações) comerciais, Pesquisa & Desenvolvimento. Portanto, existem muitas oportunidades.
O que afeta mais a engenharia: a crise econômica em si ou a operação Lava Jato, que paralisou as principais empreiteiras do país?
Não podemos creditar o efeito da paralisia à operação Lava Jato. A Lava Jato é o remédio amargo a ser tomado. Na minha opinião, o sistema corrupto e fraudulento que se interpôs entre governos e empreiteiras nas negociações de obras e terceirizações de serviços é o grande culpado pela redução de empregos na engenharia. A Lava Jato é a cura. Mas, obviamente, a crise no governo e na Petrobras afetou significativamente o mercado de trabalho para os engenheiros. Não só com as obras como também com os contratos de prestação de serviços de manutenção.
A proposta de se abrir o mercado para construtoras estrangeiras seria interessante para profissionais de engenharia do Brasil?
Tem o lado bom e o ruim nessa abertura. O positivo será a geração de oportunidades para os engenheiros, tanto dentro quanto fora do país. O lado negativo será a pressão no valor dos salários, pois as empresas enfrentarão maior concorrência.
Corre-se o risco de a engenharia voltar a enfrentar um cenário semelhante ao vivido nos anos 1980 e 1990, conhecido no setor como décadas perdidas?
Acredito que não. Como falei, sempre haverá oportunidades para os engenheiros. E o Brasil, por pior que seja administrado, devido a seu grande potencial agrícola, mineral e à sua grande população, ainda vai ser atrativo para muitas empresas, muitos investidores.
Caso as concessões para rodovias, ferrovias, portos e aeroportos decolem, a situação tende a mudar?
Sim, a iniciativa privada sempre foi mais eficiente que os órgãos públicos na gestão. Com certeza, gerará mais investimento e mais empregos.
Apenas ter a graduação em engenharia é requisito para competir no mercado de trabalho?
Não. Domínio do idioma inglês também é fator de diferenciação.
A arquitetura vive momento semelhante ou estaria mais aquecida?
Vive momento semelhante e tem o agravamento de não ter a mesma versatilidade da engenharia civil.
Entrevistado
Engenheiro agrônomo João Xavier, especialista em recursos humanos e diretor-geral da Ricardo Xavier Recursos Humanos
Contato: joaoxavier@ricardoxavier.com.br
Crédito Foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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