Crise faz construção civil retroceder 12 anos
Paralisação de projetos, por causa da conjuntura econômica, leva entidades de classe do setor a prever crescimento negativo de 5,5% em 2015
Paralisação de projetos, por causa da conjuntura econômica, leva entidades de classe do setor a prever crescimento negativo de 5,5% em 2015
Por: Altair Santos
A construção civil vive seu pior momento, desde 2003. Os números do setor retrocedem a níveis de 12 anos atrás. A conjuntura econômica, que paralisa obras de infraestrutura, aliada à escassez de recursos para o financiamento habitacional, leva o segmento a prever crescimento negativo de 5,5% em 2015. Para especialistas, o cenário só muda se o governo federal conseguir viabilizar a terceira etapa do Minha Casa Minha Vida 3, que prevê 3 milhões de moradias até 2018, e tiver sucesso em conter o volume de saques da caderneta de poupança e do FGTS, o que já vem afetando o volume de recursos voltados especificamente para a construção habitacional.
Por enquanto, ninguém das principais entidades de classe da construção civil vê com otimismo o cenário que se desenha até o final do ano. Para a economista Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção da FGV (Fundação Getúlio Vargas), se as medidas que estão sendo tomadas em 2015 tivessem sido antecipadas para 2013, o impacto no setor seria menor. “Agora, com o cenário econômico mais complicado, o impacto do ajuste será maior no setor”, estima. A previsão nada otimista é confirmada pelo presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, José Carlos Martins. Para ele, o nível de emprego no setor vem se deteriorando muito rapidamente. “A maior preocupação é restabelecer a plena atividade do setor e estancar a perda de empregos”, avisa.
A redução de postos de trabalho formais na construção civil não para de cair. O movimento iniciado em outubro de 2014 já acumula perda de 290 mil vagas, segundo dados até abril de 2015 (os números de maio ainda não foram divulgados). “A CBIC está fazendo o esforço necessário para impedir o fechamento destas vagas”, diz José Carlos Martins, completando: “Chegamos ao fundo do poço”.
Na mais recente reunião de conjuntura realizada mensalmente pelo SindusCon-SP, o palestrante convidado – o economista e professor da FGV, Robson Gonçalves – compara a situação atual a uma armadilha econômica. “Criou-se um círculo vicioso: a economia em recessão provoca queda na arrecadação, o que leva a cortes e contingenciamento de gastos públicos, sacrificando o investimento. Com isso, continuam as restrições sobre a oferta de produtos e serviços, o que por sua vez mantém a inflação elevada. Para combatê-la, o governo eleva os juros, o que por sua vez realimenta a recessão econômica”, disse, em encontro ocorrido dia 5 de maio de 2015.
Medidas
Depois de autorizar a Caixa Econômica Federal a subir por duas vezes os juros dos financiamentos habitacionais, o que impactou ainda mais o setor, o governo federal decidiu tomar medidas que buscam reestimular a construção civil. Em uma delas, o conselho curador do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) autorizou a ampliação de mais R$ 4,9 bilhões ao programa que destina financiamentos imobiliários a trabalhadores com contas do FGTS de renda mais alta. O aumento dos recursos tem a finalidade de atender a demanda por crédito, diante dos saques recordes dos recursos das cadernetas de poupança. Ainda no final de maio de 2015, o Conselho Monetário Nacional (CMN) remanejou R$ 22,5 bilhões para o crédito imobiliário, a fim de impedir que o setor entre em colapso.
No entanto, os empresários ainda aguardam novas medidas. Entre elas, o lançamento da etapa 3 do programa Minha Casa Minha Vida, além do lançamento de um pacote de concessões para reestruturar rodovias e construir ferrovias no país, além de viabilizar portos e aeroportos. Pode ser a luz no final do túnel, e o sinal para a retomada de um crescimento em ritmo chinês que a construção civil brasileira experimentou entre 2007 e 2012. Neste período, enquanto o PIB nacional avançou 19%, o da construção registrou crescimento de 41%.
Entrevistados
Economista Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção da FGV (Fundação Getúlio Vargas)
Engenheiro civil José Carlos Rodrigues Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC)
Contatos
sindusconsp@sindusconsp.com.br
comunica@cbic.org.br
Créditos fotos: AENotícias/SindusCon-SP/CBIC/Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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