Prédio residencial em pré-fabricado: por que não?
Fora do Brasil, processo construtivo já está incorporado pelo mercado; no país, ABCIC trabalha para disseminar tecnologia entre as construtoras
Fora do Brasil, processo construtivo já está incorporado pelo mercado; no país, ABCIC trabalha para disseminar tecnologia entre as construtoras
Por: Altair Santos
No Concrete Congress – evento que aconteceu paralelamente ao Concrete Show 2014 -, o engenheiro britânico Kim Elliott, integrante da comissão de pré-fabricados (C6) da FIB (Federação Internacional do Concreto) revelou que na Europa já é comum prédios residenciais ou comerciais, de até 50 pavimentos, serem construídos com a tecnologia do pré-fabricado. Ele apresentou soluções técnicas para estabilizar estruturas pré-fabricadas de concreto em termos de ações laterais, forças de cisalhamento, efeito diafragma e ligações para cargas acidentais, as quais reduzem significativamente o risco de colapso progressivo neste tipo de obra.
No Brasil, o colapso progressivo em estruturas pré-moldadas de concreto é visto como um tabu e, de certa forma, um entrave para o avanço da tecnologia. Para pôr fim a esse temor, a Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto (ABCIC) e a Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural (Abece) trabalham juntas na elaboração da norma técnica para painéis e paredes pré-moldadas de concreto, cujo coordenador é o engenheiro civil Augusto Pedreira de Freitas. Especialista em obras que usam alvenaria estrutural, concreto armado e concreto protendido, Pedreira de Freitas lançou um desafio em sua palestra: por que a construção civil brasileira não constrói edifícios residenciais de múltiplos pavimentos usando pré-fabricados e pré-moldados?
Segundo ele, a partir da nova norma, o mercado poderá atuar com essa tecnologia sem medo. “Diria que o meio técnico tem receio do insucesso quando aborda esta tecnologia, da mesma forma que age com um certo conservadorismo. Sempre vem aquele comentário de que construir edificações com múltiplos pavimentos em pré-fabricados é como erguer um castelo de cartas. A norma se propõe a acabar com esse estigma, tratando de todos os calcanhares de Aquiles do pré-moldado, como as conexões para a fixação dos painéis”, atesta Augusto Pedreira de Freitas.
Vice-presidente de relacionamento da Abece e projetista de estruturas, o engenheiro enfatizou ainda que todas as normas já aprovadas em relação a estruturas pré-fabricadas, como as de estacas e lajes alveolares, e as que estão em revisão, como a ABNT NBR 9062 – Projeto e Execução de Estruturas de Concreto Pré-Moldado, além da que irá tratar de painéis e paredes pré-moldadas de concreto, têm como objetivo dar suporte e segurança para o desenvolvimento de projetos que utilizam esse sistema construtivo. “As normas permitem a evolução do sistema, mas considerando sempre a segurança das estruturas como item fundamental. A lenda do castelo de cartas não existe mais”, afirma.
Augusto Pedreira de Freitas lembrou que o preconceito em relação a construir prédios com estruturas pré-fabricadas vem dos próprios programas habitacionais que funcionam no Brasil. “O Minha Casa Minha Vida, por exemplo, trata o sistema como inovador, sendo que há mais de 50 anos ele é praticado com sucesso na Europa. Até Cuba, há quase 30 anos, constrói com esta tecnologia”, diz, completando que o desafio não está na comprovação de que as estruturas pré-fabricadas funcionam, mas na demonstração de que elas podem reduzir custos. “Com a questão cada vez mais complicada da mão de obra, eu pergunto: por que não construir edifícios residenciais em pré-fabricado? Talvez ainda nos faltem fornecedores e talvez ainda nos faltem equipamentos, mas em termos de tecnologia e normalização ela é plenamente segura”, finaliza.
Entrevistado
Engenheiro civil Augusto Pedreira de Freitas, vice-presidente de relacionamento da Abece (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural) e diretor da Pedreira Engenharia
Contato: http://pedreira.eng.br/index.php/contato
Crédito Foto: Divulgação/Cia. de Cimento Itambé
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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