BRT é futuro, metrô é passado, afirma Jaime Lerner
Arquiteto e urbanista, que há 40 anos implantou o Bus Rapid Transit em Curitiba, avalia que política nacional de mobilidade urbana está equivocada
Arquiteto e urbanista, que há 40 anos implantou o Bus Rapid Transit em Curitiba, avalia que política nacional de mobilidade urbana está equivocada
Por: Altair Santos
Arquiteto, ex-prefeito de Curitiba por três vezes e governador do Paraná por duas vezes, além de criador do sistema que ficou mundialmente conhecido como BRT (Bus Rapid Transit), Jaime Lerner avalia que a mobilidade urbana no Brasil encontrará sua eficácia no sistema de ônibus que percorre canaletas exclusivas, e não no metrô. Em recente palestra na OAB-PR (Ordem dos Advogados do Brasil) Lerner disse não ter nada “contra o metrô”, mas defende que o programa do governo federal, o qual pretende investir R$ 50 bilhões no modal subterrâneo, canalize seus recursos para o BRT. “Construções subterrâneas estão cada vez mais caras. Com esse dinheiro, dará para fazer no máximo três linhas de metrô, enquanto que, com os mesmos recursos, é possível implantar BRTs em cem cidades brasileiras de duzentos mil a cinco milhões de habitantes”, diz.
Jaime Lerner apresentou números. Mostrou que com R$ 50 bilhões seria possível implantar BRTs em 70 cidades entre 200 mil e 500 mil habitantes, assim como em 17 municípios entre 500 mil e 1 milhão de habitantes e em 11 cidades entre 1 milhão e 5 milhões de habitantes, além de atender duas metrópoles com mais de 5 milhões de habitantes. “É possível atingir essas cidades com BRT, e solucionar os problemas de mobilidade urbana delas sem recorrer ao metrô”, assegura. Ele lembrou ainda que hoje é inviável criar uma rede de transporte público baseada no metrô, como as que existem em cidade como Londres, na Inglaterra, e Paris, na França. “Construir redes completas de metrô não é mais possível. Londres e Paris fizeram isso quando era barato trabalhar no subterrâneo”, completa o urbanista, para quem o metrô atualmente é viável apenas para interligar cidades de regiões metropolitanas.
Metrô em Curitiba
Lerner fez uma abordagem específica sobre a transformação que se pretende implantar em Curitiba, substituindo o sistema de BRT pelo metrô, e foi veemente. “É um embuste, que vai quebrar uma rede consolidada e trocá-la por meia linha de metrô, a qual vai custar até R$ 6 bilhões”, critica, lembrando que há 40 anos, quando foi implantado na capital paranaense, o Bus Rapid Transit transportava 50 mil passageiros/dia e hoje é usado por 2.700.000 passageiros/dia. “A cidade não precisa da troca do sistema, mas de manutenção do sistema, acompanhada de inovações. Quando surgiram as canaletas exclusivas, os ônibus biarticulados e as estações-tubo, o conjunto ‘metronizou’ o ônibus. O problema é que hoje o sistema está se deteriorando. A rede perdeu o sincronismo”, alerta.
O arquiteto e urbanista citou que o sucesso do BRT está no número de metrópoles que hoje o utilizam. “Há 126 cidades usando o Bus Rapid Transit em todo o mundo. Desde Bogotá, na Colômbia, até várias metrópoles chinesas, europeias, nos Estados Unidos e no Canadá. Mas é preciso frisar que essas 126 cidades, de fato, implantaram os conceitos do sistema. Só pintar uma faixa no asfalto e torná-la exclusiva para ônibus não funciona. O que funciona é a rede, é integrar o BRT à cidade. Hoje, no Brasil, só o Rio de Janeiro está fazendo isso. Lá o BRT realmente está conseguindo melhorar o sistema, interligando-se ao metrô já existente e às novas linhas em construção”, afirma Lerner, resumindo que o transporte coletivo precisa atender três problemas das cidades atuais: mobilidade, sustentabilidade e convivência entre as pessoas.
Saiba mais sobre o BRT.
Entrevistado
Jaimer Lerner, arquiteto e urbanista, ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná.
Contato
contato@jaimelerner.com
Créditos Fotos: Divulgação/OAB-PR/Prefeitura de Curitiba
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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