Falta de capacitação derruba emprego na construção

Além da retração no setor, causada por oscilações na economia, número de vagas reduziu porque empresas investem mais em processos industriais

Além da retração no setor, causada por oscilações na economia, número de vagas reduziu porque empresas investem mais em processos industriais

Por: Altair Santos

O mês de dezembro de 2013 registrou índices negativos de geração de emprego na construção civil. A queda foi generalizada, detectada em todas as regiões do país. Um dos motivos para a redução na oferta de vagas está na falta de capacitação da mão de obra disponível. Com os cronogramas cada vez mais apertados, as construtoras optam por substituir trabalhadores por processos industrializados. Por outro lado, quem apresenta qualificação para atuar no canteiro de obras segue com pleno emprego. Segundo números da Fundação Getúlio Vargas, encomendados pelo SindusCon-SP , a geração de vagas na construção civil brasileira em 2013 (somando 12 meses) foi 1,54% maior que em 2012. Houve 52 mil contratações a mais, quase todas para quem tinha capacitação.

Vagas para a mão de obra qualificada cresceram 1,54% em 2013

Um dos organismos que mais atua pela qualificação da mão de obra na construção civil é o Deconcic (Departamento da Indústria da Construção). Ligado à Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) o departamento gerencia o Programa Compete Brasil – um conjunto de ações que propõe aumentar a competitividade do setor, dividido em seis temas estratégicos:
•    Concessão de créditos tributários para qualificação de trabalhadores na forma de isenção tributária
•    Campanhas de valorização do profissional da construção civil
•    Promover a proximidade entre empregadores e cursos superiores e técnicos
•    Divulgar a demanda por mão de obra (presente e futura) por localidade, por meio do Observatório da Construção (http://www.fiesp.com.br/?temas=observatorio-da-construção)
•    Organizar a oferta complementar de cursos, adequação da quantidade de vagas de acordo com a demanda

Segundo o gerente do Deconcic, Filemon Pereira de Lima, o aprimoramento da mão de obra da construção civil tende a deixar de ser um diferencial para o trabalhador e se tornar uma prerrogativa. Não só para quem está em busca de vaga como para quem já está no mercado. É o que ele explica na entrevista a seguir:

É preciso mais esforço do setor, em busca de parcerias com instituições de aprimoramento técnico, para que se atinja um volume maior de qualificação da mão de obra?
Com certeza. Acreditamos que um volume maior de mão de obra qualificada, em todos os níveis, deve passar pela busca conjunta de soluções entre entidades representativas de empresas, de trabalhadores e de classes profissionais, escolas técnicas, universidades e órgãos públicos. O Deconcic vem trabalhando nesse processo, com ações previstas ainda para 2014. A ideia é unir ações e projetos em andamento nesses diversos organismos para implementar programas de certificação de mão de obra, assim como concessões de benefícios tributários às empresas que qualificarem seus funcionários.

Segundo dados divulgados pelo SindusCon-SP, em 2013 o nível de emprego na construção civil brasileira encerrou o ano de 2013 com alta acumulada de 1,54%. Há uma expectativa de que em 2014 esse índice aumente?
De acordo com dados do SindusCon-SP, há expectativa de que 2014 seja um ano mais promissor que 2013 nas perspectivas de emprego no setor. As projeções da entidade indicam uma expectativa de crescimento na ordem de 3%, com novo recorde a ser alcançado ainda no primeiro trimestre.
Fonte: SindusCon-SP – ConstruCarta, edição de 04 fev. 2014, ano 15, nº 535.

Boa parte dos empregos gerados em 2013 absorveu quem tinha qualificação. Para quem não tem qualificação será cada vez mais difícil atuar na construção civil?
Com as iniciativas que estão sendo desenvolvidas nesse sentido, a tendência é que mesmo os trabalhadores já empregados no setor busquem constantemente seu aprimoramento profissional, em todos os níveis. Os programas de certificação de mão de obra e de benefícios às empresas que qualificarem seus empregados farão com que, no longo prazo, um bom currículo seja prerrogativa para trabalhar no setor.

Como está a questão do turnover na construção civil: ainda é grande ou tem diminuído gradativamente?
É importante destacar que a rotatividade ainda é uma realidade que afeta a força de trabalho como um todo no Brasil, gerando inseguranças aos trabalhadores em diversas áreas. Em algumas carreiras a taxa chega a 150% – ou seja, o quadro de funcionários é renovado 1,5 vez no ano. Pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) sobre a rotatividade no setor da construção civil apontou taxa média de 113% entre 2007 e 2011, com ligeira queda de 2,5% entre 2010 e 2011. Novos dados sobre o tema no Brasil serão apresentados pelo DIEESE e pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) no I Seminário Rotatividade no Mercado de Trabalho: Diagnósticos e Propostas de Enfrentamento, a ocorrer em março.
Fonte: DIEESE. “Estudo Setorial da Construção 2012”, lançado em maio de 2013.

A construção industrializada tende a ser cada vez mais presente nos canteiros de obra, reduzindo o volume de mão de obra, mas exigindo cada vez mais qualificação?
A construção industrializada gera ganhos num aspecto essencial para melhorar os resultados do setor, que é a produtividade da mão de obra. Enquanto o desperdício de insumos no país chega a 30%, na França, por exemplo, não ultrapassa 12%. A adoção de novas tecnologias é, portanto, uma das soluções naturais para essa questão. Assim como ocorre em outros setores que passam a automatizar parte de sua produção, a construção industrializada pode implicar em menor efetivo, mas passando a exigir profissionais com atribuições diferentes das convencionais. Dessa forma, é necessário que haja investimento em especialização das equipes para trabalhar com os sistemas industrializados, contribuindo para uma evolução na carreira dos trabalhadores do setor.
Fonte: IBRACON. “Os desafios da industrialização em concreto”. Matéria assinada por Íria Lícia Doniak, presidente executiva da ABCIC e diretora de cursos do IBRACON, para a Revista Concreto & Construções nº 72, ano XLI, nov-dez/2013.

O Deconcic tem estatísticas de quem hoje, dentro da cadeia produtiva da construção civil, mais emprega?
Acompanhando dados do mercado de trabalho do setor no Brasil, nota-se que as construtoras são responsáveis pelo maior número de pessoas ocupadas. Em 2012, os trabalhadores da construção representaram 71,5% da força de trabalho da cadeia produtiva, seguido por outros fornecedores (indústria extrativa, energia, etc.), com 10,6%, e pelo comércio de materiais, com 7,0%.
Fonte: ABRAMAT e FGV – “Perfil da cadeia produtiva da construção e da indústria de materiais e equipamentos 2012”.

Entrevistado
Filemon Pereira de Lima, gerente do Deconcic (Departamento da Indústria da Construção)
Contato: flima@fiesp.org.br

Crédito Foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330


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