Empresas se especializam em dar qualidade ao projeto

Construção civil intensifica uso desta especialidade, que detecta e filtra os problemas e ainda faz o acompanhamento na obra.

Cresce número de construtoras que recorrem a mecanismos que filtram os problemas e fazem o acompanhamento da obra, evitando retrabalho

Por: Altair Santos

Está claro para boa parte das construtoras que operam no Brasil que o sucesso da obra depende do projeto. É nele que é possível reunir as melhores soluções, adequando custos e prazos. Estima-se que um bom projeto equivale de 3% a 6% do valor total do empreendimento. No entanto, se mal feito, poderá impactar todos os outros 94% ou 97%. Por isso, antes de iniciar a fase da construção, empresas têm recorrido a especialistas em avaliar a qualidade do projeto. O procedimento consiste em submeter a um grupo de profissionais, que vão desde geólogos até engenheiros calculistas, a análise meticulosa do conceito da obra.

Roberto Kochen: projeto mal feito impacta em todo o empreendimento.

Essas empresas, cuja expertise está voltada para um modelo de gestão conhecido como Especificação da Qualidade do Projeto, também se especializaram em promover o acompanhamento técnico dentro do canteiro de obras. Isso permite verificar se o projeto está correto ou se, ao ser colocado em prática, ele ainda tem possibilidades de melhora. “É como uma grande peneira, que filtra os grandes problemas e torna o empreendimento mais redondo. Trata-se de uma ferramenta que está sendo usada cada vez mais, principalmente pelas médias construtoras, que não têm como sustentar um departamento só para fazer a gestão da qualidade do projeto“, explica Roberto Kochen, da GeoCompany.

Sinteticamente, a Especificação da Qualidade do Projeto utiliza quatro ferramentas técnicas:
– Análise de custo-benefício, que avalia se vale ou não a pena fazer determinados testes no projeto.
– Benchmarking, que compara práticas aplicadas e bem-sucedidas em diferentes projetos.
Projeto de experimento, que avalia se é relevante submeter a ensaios produtos que serão usados na obra.
– Custos da qualidade, que, para não onerar a obra, analisa quais ações podem ou não ser descartadas no projeto.

PBQP-H

A criação do Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H) em 1998 foi determinante para que as empresas passassem a valorizar os projetos, sobretudo os habitacionais. O programa passou a agir como um indutor da cadeia produtiva da construção civil, enfrentando desequilíbrios nos padrões de qualidade, práticas de não conformidade e baixo nível de inovação tecnológica – fatores que contribuíam para um habitat urbano de baixa durabilidade. Além disso, sem a aprovação do PBQP-H, as construtoras dificilmente conseguem financiamento para as obras via Caixa Econômica Federal.

O PBQP-H possui um Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) que divide as empresas em quatro níveis: A, B, C e D. O nível D é a etapa inicial para a implementação do SGQ. Os demais são alcançados por meio de certificação, de acordo com organismos acreditados pelo Inmetro. Para que as construtoras subam de nível, elas precisam investir em projetos consistentes. As grandes e médias já se adequaram. Há pequenas empresas, no entanto, que ainda confiam projetos a profissionais autônomos, balizando-se pelo preço de mercado e não pela qualidade. Invariavelmente, isso gera uma descontinuidade nos ciclos de produção dentro do canteiro de obras e inviabiliza o próprio projeto, gerando o pior dos problemas num empreendimento: o retrabalho.

Entrevistado
Roberto Kochen, diretor-técnico da GeoCompany
Currículo
– Roberto Kochen é graduado em engenharia civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (1977)
– Tem mestrado e doutorado em engenharia pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (1982 e 1989)
– Fez pós-doutorado na Universidade de Toronto, no Canadá
– É diretor do Departamento de Construções Civis do Instituto de Engenharia do Estado de São Paulo
– Ocupa o cargo de professor-doutor do Departamento de Estruturas e Fundações da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
– É diretor-técnico da GeoCompany Tecnologia, Engenharia e Meio Ambiente
Contatos: www.geocompany.com.br / kochen@geocompany.com.br
Créditos foto: Divulgação autorizada

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330


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