Combate às patologias começa na impermeabilização
Estanqueidade de uma obra precisa vir contemplada no projeto. Caso contrário, além de infiltrações, custo da construção encarece mais de 12%.
Estanqueidade de uma obra precisa vir contemplada no projeto. Caso contrário, além de infiltrações, custo da construção encarece mais de 12%
Por: Altair Santos
O custo de uma boa impermeabilização representa de 1% a 2% no orçamento total da obra. Isso, se ela já vier incluída no projeto do empreendimento. Caso contrário, se tiver que ser feita depois de constatados problemas na construção, o processo pode gerar um acréscimo superior a 12% no custo da mesma obra. Por isso, impermeabilizar corretamente é melhor do que combater patologias. Esse foi o legado do 13º Simpósio Brasileiro de Impermeabilização, que aconteceu em junho de 2013, em São Paulo. No encontro, foram apresentadas inovações, tendências e tecnologias que devem estar presentes tanto nas grandes obras quanto nos empreendimentos imobiliários, como explica na entrevista a seguir a arquiteta Elka Porciúncula, especialista em impermeabilização com ênfase em projetos. Confira:
Os projetos, sejam de grandes obras ou de empreendimentos imobiliários, têm dado relevância à impermeabilização ou essa é uma preocupação ainda periférica na construção civil?
A conscientização da necessidade de uma boa impermeabilização na construção civil decorre da crescente ocorrência de patologias, fruto de mau serviço executado em obra, no que diz respeito a estanqueidade e proteção estrutural. Nos empreendimentos imobiliários, isso é computado em planilha de custo com orçamentos planejado que não admitem desvios. Portanto, corrigir ou refazer a impermeabilização é bastante oneroso. Nas grandes obras, geralmente com recursos públicos, essas ocorrências são resolvidas com novas contratações e não com cobranças dos responsáveis pelo serviço mal executado. Deveria ser diferente, com a maior fiscalização do uso de verbas públicas.
Em termos de custo/benefício e vida útil de um empreendimento, qual o peso da impermeabilização na obra?
O custo de uma boa impermeabilização em uma obra esta dentro de uma margem de 1% a 2% do custo geral e representa muito pouco na planilha de custo final, visto que significa preparar a edificação contra os efeitos de infiltração , dando estanqueidade a sistemas construtivos e protegendo a estrutura contra corrosão, fissuras, descolamentos, ações químicas etc. Refazer a impermeabilização eleva esse custo a uma margem superior a 12%, segundo estudos já elaborados.
Quais normas estão vinculadas hoje ao correto emprego da impermeabilização?
A NBR 9575 – Projeto de Impermeabilização; NBR 9574 – Serviços de Impermeabilização, e NBR 15575 – Desempenho dos Sistemas Construtivos, além de todas as normas que se referem aos produtos e elementos utilizados em impermeabilização, como NBR 9952 – Mantas Asfálticas; NBR 9910 – Asfalto Modificado, e NBR 9686 – Solução e Emulsão Asfáltica.
Sabe se há alguma norma em processo de revisão ou sendo criada para melhorar o processo de impermeabilização?
Atualmente, as NBR 9952 – Mantas Asfálticas para impermeabilização, está na comissão de estudo de sistemas de mantas asfálticas da ABNT, assim como a NBR 11905 – Sistema de Impermeabilização Composto por Cimento Impermeabilizante e Polímeros, que encontra-se na comissão de estudo de sistemas rígidos da ABNT.
No que a norma de desempenho (NBR 15575) vai acrescentar na melhoria dos processos de impermeabilização?
A NBR 15575 – Desempenho dos Sistemas Construtivos para Edificações Residenciais chega em um excelente momento da construção civil, onde novas tecnologias e materiais estão sendo utilizados e precisam ser balizados para atender aos critérios desejados pelos usuários, que são o objetivo final da edificação. As incorporadoras e construtoras devem conceber e executar as obras de acordo com processos construtivos que atendam o nível de desempenho especificado em projeto para ser atingido ao longo de uma vida útil. Isso envolve toda a cadeia construtiva – incorporadores, projetistas, construtores, fabricantes, fornecedores de insumos e o usuário. Em impermeabilização teremos um processo muito mais planejado em suas etapas, que possibilitará rastrear o que foi executado, como e por quem, desde que devidamente documentado o procedimento. A NBR 15575 se baseia nas normas prescritivas que, em impermeabilização, seriam a NBR 9575 e a NBR 9574, acrescentando conceitos novos ao que se pretende em requisitos de estanqueidade, proteção das estruturas, resistência ao fogo etc. Também define quais os prazos de garantias para cada sistema construtivo e sua vida útil e vida útil de projeto. Muito ainda será preciso medir em laudos e ensaios técnicos. Não temos as informações balizadas para definir esses prazos, mas certamente é um avanço no que diz respeito à qualidade da construção civil.
Quando se elabora um projeto de impermeabilização, o que deve ser levado em consideração?
Em impermeailização é preciso um processo muito mais planejado, que começa pelo estudo do terreno e suas características geomorfológicas e químicas, bem como o entorno, além de estudos de drenagens. Também é preciso ter a compreensão do projeto de arquitetura e de todos os outros envolvidos numa obra, compatibilizando sempre as indicações dos sistemas de impermeabilização e os sistemas construtivos adotados. Por fim, quando o empreendimento estiver pronto, se faz necessário orientar o usuário sobre como utilizar as áreas que receberam impermeabilização.
O que diferencia, em termos de impermeabilização, quando se faz um projeto para uma grande obra (pontes, viadutos, estádios etc) e para um empreendimento imobiliário, por exemplo?
Na elaboração de projetos de impermeabilização não existe diferença entre empreendimentos imobiliários e grandes obras. O que difere são os estudos técnicos necessários para iniciar um estudo preliminar de impermeabilização para a obra a ser executada. Grandes obras possuem interfaces multidisciplinares que precisam ser bem discutidas, até para se formatar a real necessidade de impermeabilizar e como isso funcionará em decorrência de diversos fatores possíveis no pós-obra, como ações de vento, chuvas, movimentos, alto tráfegos, exposição ao sol etc. Geralmente, as grandes obras são com recursos públicos e não valorizam essa fase projetual, deixando consequências para correção no pós-obra, sem a devida fiscalização e com os serviços mal executados. Em empreendimentos imobiliários, essa fase projetual tem sido bem discutida pelas empresas, que já perceberam a importância de um projeto de impermeabilização.
Quais patologias podem afetar uma obra se a impermeabilização for mal feito ou ignorada?
Diversas são as patologias decorrentes da falta ou má execução de impermeabilização, tais como infiltrações por capilaridade ascendente, que causam aquele bolor e fungos em rodapés e pisos; manchas por eflorescência, carbonatação, corrosão das armaduras, infiltrações em juntas e detalhes construtivos, manchas de umidade por absorção, trincas e fissuras, descolamento de revestimentos internos e externos, para citar as mais comuns.
Construções que usam concreto pré-moldado usam que tipo de impermeabilização em comparação com as de concreto armado?
Sistemas construtivos que utilizam estruturas pré-moldadas precisam estar atentos aos detalhes de juntas verticais e horizontais, além dos encaixes, que sofrem grandes movimentações. O tipo de uso a que estará exposta a edificação também influencia, assim como o tipo de concreto, que pode ser mais leve, mais aerado e com maior facilidade de absorção de água. O uso acentuado de desmoldantes, alterando as propriedades da superfície, bem como a grande quantidade de elementos que serão fixados aos pré-fabricados, pós-serviços, também podem influenciar na impermeabilização.
Em termos de mão de obra, equipamentos e produtos para impermeabilização, a construção civil brasileira está bem servida ou tem muito a evoluir em relação ao que é aplicado fora do país?
No que diz respeito à impermeabilização, o Brasil está muito bem em produtos e técnicas construtivas. Mas em mão de obra qualificada, está muito fraco. Não temos ainda a cultura do treinamento técnico e aperfeiçoamento. Precisamos qualificar e reconhecer a boa mão de obra, isso é o que há de fraco em toa a cadeia, não apenas em impermeabilização. É importante pensar em impermeabilização em fase de projeto e fazer com que ele se compatibilize com todos os outros projetos. Também é necessário que ele faça parte da planilha de orçamento previsto com menor desvio possível. A prática nos apresenta que a impermeabilização só é decidida na fase em que a obra já esta muito avançada e muitos serviços precisam ser refeitos por não estarem previstos em projeto. Isso foi tema relevante no Simpósio de impermeabilização que aconteceu recentemente em São Paulo e fez parte do trabalho de dissertação de mestrado do engenheiro Jorge de Aquino Lima, sob o título “Processo integrado de Projeto, aquisição e execução de sistemas de impermeabilização em edifícios residenciais: diagnóstico e proposição de melhorias de gestão”.
Entrevistada
Elka Porciúncula, arquiteta, assessora técnica e especialista em impermeabilização com ênfase em projetos
Currículo
– Elka Porciúncula é graduada em arquitetura pela Universidade Federal de Pernambuco (1986)
– Atua como assessora técnica na ADEMI-PE (Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário no Estado de Pernambuco)
– É sócia-diretora do escritório Paralelas Projetos, especializado em impermeabilização com ênfase em projetos
Contato: elkawp@hotmail.com
Créditos fotos: Divulgação autorizada
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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