Varandas de prédios precisam de cuidados especiais
Estruturas têm a tendência de serem vulneráveis a patologias, principalmente quando o morador decide promover intervenções sem avaliação técnica.
Estruturas têm a tendência de serem vulneráveis a patologias, principalmente quando o morador decide promover intervenções sem avaliação técnica
Por: Altair Santos
Em 2008, o edifício Dom Gerônimo, na cidade de Maringá – localizada no noroeste paranaense – sofreu um colapso progressivo de varandas instaladas em 15 pavimentos do prédio. Houve uma combinação de falha de execução com falta de manutenção, que culminou com o desabamento das sacadas. As construções ficaram vulneráveis a infiltrações, permitindo a corrosão das ferragens.
Com isso, a marquise instalada sobre a varanda do 15º andar desabou, causando um efeito dominó sobre as demais estruturas, que foram construídas em sistema de balanço.
O acidente desencadeou uma série de inspeções prediais na cidade. Finalizado o trabalho, em 2009 constatou-se que aproximadamente 50% das marquises dos prédios em Maringá continham patologias que colocavam em risco a vida útil das estruturas e ameaçavam os usuários dos apartamentos e os pedestres. O problema levou à aprovação de uma lei municipal que passou a obrigar vistorias periódicas nas varandas, sacadas e marquises dos edifícios, além de impor limites às transformações que os moradores normalmente costumam fazer nessas estruturas – por vezes agregando-as às áreas úteis do apartamento.
A partir da NBR 15575 (norma de desempenho) prevista para entrar em vigor em março de 2013, a expectativa dos engenheiros-peritos é que esse tipo de “agressão” às estruturas de varandas e sacadas seja feita seguindo orientações técnicas. “A partir da norma de desempenho, as construtoras deverão entregar manuais aos moradores, especificando como usar, como operar e como intervir, se for o caso, na área comum e na área privativa do prédio. Esse manual será semelhante ao que acompanha os veículos novos, em que o comprador é orientado sobre as revisões e o que pode ou não fazer no carro”, alerta o engenheiro civil Valmir Luiz Pelacani.
O especialista lembra que toda varanda é projetada para receber uma sobrecarga de segurança. Se a estrutura for do tipo em balanço, o cuidado deve ser redobrado quanto à mudança no seu uso. “Alterar o uso da sacada, agregando-a ao ambiente de uso interno do apartamento, como a sala, por exemplo, pode incorrer em risco à estrutura. Qualquer mudança de uso das varandas deve ser precedida de cálculo e análise de profissional devidamente habilitado”, destaca o perito, que prestou assessoria técnica para a elaboração da lei municipal que existe em Maringá.
Valmir Luiz Pelacani cita que, dependendo da estrutura da sacada, até “spliters” de ares-condicionados podem sobrecarregá-la. No caso de instalações de vidros laminados do tipo “blindex” sobre os peitoris das varandas, trata-se de um procedimento que depende de estudo para ver se a estrutura suporta o peso do vidro temperado (geralmente acima de 10 mm de espessura).
Mas o que mais causa apreensão é quando um morador decide quebrar paredes para unir a sacada à sala. “É necessário avaliar se é possível efetuar a abertura no local desejado sem que ela abale os elementos estruturais de concreto. Saliento que as paredes em alvenaria autoportante (blocos de concreto celulares ou vazados) não devem sofrer aberturas sem participação antecipada do profissional responsável pelo cálculo estrutural. Via de regra, jamais deve ser aberto parede com este tipo de alvenaria autoportante”, ressalta o engenheiro-perito.
Patologias mais comuns
– O problema mais comum encontrado em varandas, principalmente as com estruturas em balanço, concentra-se no acúmulo e infiltração de água.
– Se a varanda, sacada ou marquise acumula água em local não projetado (ralo e tubulação de drenagem de água pluvial) é sinal de risco à estrutura (corrosão e perda da resistência das ferragens pelo efeito químico conhecido como “pilha”).
– Outro risco está relacionado à falta de manutenção, o que pode causar a soltura de rejuntes dos pisos ou a trinca do cimentado, comprometendo o sistema de impermeabilização e levando à instabilidade da estrutura em concreto armado.
– Não raramente podem ocorrer também colapsos por falha de projeto, sobrecarga de utilização (peso em excesso) ou aumento de dimensões do ambiente sem a devida readequação do projeto estrutural (agregá-la à área interna).
Entrevistado
Valmir Luiz Pelacani, engenheiro-perito e membro titular do IBAPE (Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia)
Currículo
– Valmir Luiz Pelacani é graduado em engenharia civil pela Universidade Estadual de Maringá (1985)
– É membro titular do IBAPE (Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia)
– Foi professor da UEM (1990) e do CESUMAR (Centro Universitário de Maringá) (2010 e 2011)
– Atua como diretor da AEAM (Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Maringá)
– É autor dos livros “O Perito Judicial e o Assistente Técnico” e “Responsabilidade Civil na Construção”
Contato: pelacani@creapr.org.br
Créditos foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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