NBR 15575 amplia interesse pela luminotécnica
Norma que entrará em vigor em 2013 exige que tanto edifícios habitacionais quanto corporativos tenham desempenho lumínico
Norma que entrará em vigor em 2013 exige que tanto edifícios habitacionais quanto corporativos tenham desempenho lumínico
Por: Altair Santos
Dentro do conceito de projetos sustentáveis, a luminosidade passou a ter um valor inestimável. Hoje, é recomendável às construções que aproveitem todo o potencial da luz natural e que saibam usar a iluminação artificial com eficiência energética e conforto visual. No Brasil, a tendência é que essa recomendação transforme-se em obrigatoriedade a partir da entrada em vigor da NBR 15575, cuja exigibilidade deverá valer a partir do primeiro semestre de 2013.
Segundo a norma, os edifícios deverão ter desempenho lumínico, o que, para o engenheiro Luís Lancelle – professor da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em luminotécnica -, irá ampliar o interesse pela boa iluminação, principalmente sob o ponto de vista do usuário. Para ele, a partir da NBR 15575, conceitos de luminosidade não se limitarão à arquitetura e à decoração de ambientes, mas passarão a ser incorporados pela engenharia civil. É o que ele comenta na entrevista a seguir:
A importância dada à luminotécnica nos projetos arquitetônicos é um fenômeno novo?
Não é um fenômeno novo, mas cada dia mais abrangente. A luminotécnica começou no final do século 19, ou seja, na revolução industrial. Naquela época, ela orientava para iluminar as linhas de produção de tal maneira que se obtivesse melhor performance dos operários. Com o decorrer do tempo, tornou-se mais abrangente, até chegar à luminotécnica como a entendemos, e que nasceu como um subproduto da Segunda Guerra Mundial, onde se passou a valorizar o conceito de conforto ambiental a partir do conforto visual. Assim desenvolveu-se a luminotécnica, que é propiciar um ambiente devidamente iluminado, para que ele seja confortável por aquele que irá usufruí-lo.
Com a filosofia dos prédios verdes é que a luminotécnica ganhou mercado?
Sim, pois a partir deste momento é que foi possível compreender que a luminotécnica não é jamais o uso exclusivo da luz artificial. Luminotécnica decorre de preceitos de sustentabilidade, que estão fundamentados no uso concomitante de luz artificial com luz natural. Logicamente, a filosofia dos prédios verdes ajudou a fundamentar isso.
Um projeto que contempla bem a luminotécnica traz quais tipos de vantagem?
Em todas as áreas em que pode ser aplicada, a vantagem maior é a de criar um ambiente confortável para o individuo. Consequentemente, ela afeta outras áreas. Comprovadamente, em setores comerciais a boa iluminação incentiva as vendas. Em indústrias, favorece a produção, ou seja, a eficácia em todas as atividades que precisam de iluminação melhora quando a iluminação correta é aplicada.
A luminotécnica hoje tem sido empregada mais em ambientes corporativos ou em construções habitacionais?
Em todas as áreas. Por isso, destaco aqui uma frase de Oscar Niemeyer: “Uma boa iluminação levanta uma arquitetura medíocre, porém uma má iluminação acaba com o melhor projeto”. Ou seja, um projeto arquitetônico bem feito pode ser denegrido pelo mau uso da iluminação. No entanto, um projeto que não é extraordinário pode ser valorizado com uma boa iluminação.
Os prédios habitacionais que têm sido construídos demonstram preocupação com a luminotécnica?
Cada vez mais crescente. Até porque, a luminotécnica aplicada aos ambientes residenciais deixou de ser uma questão de poder aquisitivo. Hoje, todos que compram um imóvel, seja casa ou apartamento, têm essa preocupação. Tive o caso de um casal que me procurou para que eu deixasse o apartamento deles com uma iluminação semelhante à que aparecia em uma novela. Fiz um projeto com baixo custo e o resultado gerou uma boa iluminação.
A NBR 15575, para edifícios residenciais até cinco pavimentos, tende a contemplar a luminotécnica nestas construções?
Sem dúvida, a chamada norma de desempenho era o que faltava para a luminotécnica se consolidar. Ela exige desempenho lumínico das construções e, mais importante, ela dá poder ao usuário de decidir se o ambiente está bem ou mal iluminado. Isso significa que o consumidor deve ser consultado e a opinião dele deve ser a referência no espaço construído.
O que mais interfere na iluminação de ambientes?
A própria iluminação. Vou explicar: durante um longo tempo, a luminotécnica foi fundamentada na tese de que o objeto deveria ser bem iluminado. Hoje, o que interessa é como o ser humano vê este objeto. Quer dizer, o indivíduo necessita que sejam fornecidas informações precisas sobre o que ele está enxergando. Dentro deste conceito, o iluminamento de um ambiente deve ser preciso. Por isso, o que mais interfere na iluminação de um ambiente é um projeto malfeito, que exceda os níveis de iluminamento necessário e fira o observador através do fenômeno de ofuscamento.
Como as novas tecnologias têm sido aplicadas na luminotécnica?
No caso da iluminação artificial, todas as pontes que permitiram utilizar equipamentos que gerem performance lumínica com equipamentos ecoeficientes. Já em termos de iluminação natural, tudo aquilo que permite usar corretamente a parte lumínica da luz natural, mas sem gerar carga térmica. Para utilizar corretamente a luz do sol, temos que ter determinados tipos de elementos e formas de atuar para desprover ela da carga térmica que provocaria injetar mais energia no ambiente e comprometer seu condicionamento hidrotérmico. As novas tecnologias têm favorecido as fontes mais eficientes de luz artificial e o uso da luz natural com menor carga térmica.
Comparativamente a outros países, a luminotécnica no Brasil está bem difundida ou ainda seu foco de atuação é limitado?
Sobretudo nos países europeus há uma conscientização grande sobre sustentabilidade. Lá, eles vêm desenvolvendo projetos em que o impacto ambiental é cada vez menor. O Brasil vem perseguindo esse modelo. Hoje há várias pesquisas no ambiente acadêmico sobre esse tema. O desafio, agora, é fazer isso chegar ao usuário e fazer ele saber que pode dispor desses recursos para conviver em um ambiente melhor iluminado, seja em seu ambiente de trabalho ou na moradia.
Entrevistado
Luis Lancelle, especialista em luminotécnica e professor da USP
Currículo
– Luis Lancelle é engenheiro civil graduado pela Universidade de Buenos Aires (UBA) e ela USP (Universidade de São Paulo)
– Tem mestrado em engenharia de sistemas (UBA)
– É docente, coordenador pedagógico e orientador de cursos de pós-graduação nas áreas de engenharia e arquitetura.
– Ocupa o cargo de coordenador da área de software de iluminação da Divisão 3 do CIE-Brasil (Comission Internacionale de l´Eclairage)
– Também é consultor, designer de iluminação e especialista em software de iluminação
Contato: luis@lancelle.com.ar
Créditos foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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