Relação interpessoal não existe sem trabalho em equipe
Um bom clima organizacional, que incentiva o relacionamento saudável entre os colaboradores, torna competição e concorrência benéficas à empresa
Um bom clima organizacional, que incentiva o relacionamento saudável entre os colaboradores, torna competição e concorrência benéficas à empresa
Não basta ser competente, é preciso saber se relacionar no trabalho e fora dele. O que parece ser uma tarefa fácil, tem-se tornado um desafio cada vez maior para os profissionais. A concorrência, as comunicações virtuais e as mudanças comportamentais criaram obstáculos para a chamada relação interpessoal. A pergunta é: como superá-los para atingir equilíbrio nos relacionamentos? Essa e outras respostas são apontadas pela coach e consultora em recursos humanos, Cristina Bresser. Confira a entrevista:
A relação interpessoal abrange tanto a vida pessoal quanto a profissional de uma pessoa. No entanto, é na profissional que se sente mais dificuldades para colocá-la em prática. Por que isso ocorre?
Na vida pessoal, temos meses, anos para construir relacionamentos. Quando um profissional é contratado por uma empresa, espera-se que ele desenvolva relacionamentos pessoais que envolvam troca de informações, de conhecimento e adquira a confiança dos seus colegas quase que imediatamente, pois não há tempo a perder. Então, o profissional se vê obrigado a vencer barreiras culturais, que são frequentes e até naturais num ambiente de trabalho em relação a um novato, num curto espaço de tempo.
Quando se fala em relação interpessoal não se está falando em relação intrapessoal. Qual a diferença entre elas?
Comunicação intrapessoal é a comunicação que uma pessoa tem consigo mesma – corresponde ao diálogo interior onde debatemos as nossas dúvidas, perplexidades, dilemas, orientações e escolhas. Está, de certa forma, relacionada com a reflexão. Este é um tipo de comunicação em que o emissor e o receptor são a mesma pessoa, e pode ou não existir um meio por onde a mensagem é transmitida. Um exemplo do primeiro tipo é a criação de diários. Já a comunicação interpessoal é um método de comunicação que promove a troca de informações entre duas ou mais pessoas. Cada pessoa, que passamos a considerar como interlocutor, troca informações baseadas em seu repertório cultural, sua formação educacional, vivências, emoções, toda a bagagem que traz consigo.
Concorrência e competição passaram a ser palavras citadas como empecilhos para a relação interpessoal no trabalho. Será que elas têm tanta culpa assim?
É mais fácil culpar terceiros ou culpar situações que estão fora da esfera de influência da empresa, do que fazer uma análise critica do próprio desempenho e do clima da empresa em que se trabalha. As relações interpessoais dependem, sobretudo, de pessoas. Se existe um bom relacionamento interpessoal dentro de uma empresa, é porque as pessoas que nela trabalham se sentem confortáveis e possuem um bom clima organizacional, que incentiva o relacionamento saudável entre os colaboradores dentro e fora da empresa. Já atuei em empresas que os happy hours e almoços em grupos – de até 30 colaboradores, às vezes – eram organizados quase que semanalmente pelos próprios funcionários, de maneira espontânea, ou seja, sem planejamento ou intervenção do RH, chefia, etc. Então, competição e concorrência são fatores de crescimento e desenvolvimento para profissionais bem resolvidos, que atuam em equipe e sabem que a empresa só cresce se houver crescimento de todos que nela atuam, como equipe. E ambas são benéficas, pois desafiam profissionais e empresas a buscar o seu melhor desempenho, a excelência nas suas áreas de atuação.
Com relação às comunicações virtuais (Msn, Orkut, etc), no que elas mudaram as relações interpessoais?
Como ferramentas tecnológicas, elas podem ser benéficas ou não, dependendo do uso que se faz delas. Se o profissional usá-las para aumentar e alimentar o seu networking, e para aumentar o poder de comunicação e visibilidade da sua empresa, elas são ferramentas praticamente gratuitas de crescimento. Se usar durante seu horário de trabalho para trocar fofocas e amenidades com os amigos, ele está enganando a empresa, usando recursos que não lhe pertencem no horário que a empresa lhe paga para trabalhar.
Houve empresas que mudaram a relação com os empregados, permitindo que eles trabalhassem em casa, e depois, a pedido dos próprios empregados, voltaram ao sistema tradicional? O que pode ter dado errado nesta mudança?
Neste caso, falta maturidade profissional do empregado e um sistema de aferição de carga horária e produtividade à distância, muito simples de se instalar na casa do colaborador. Em São Paulo, em razão do trânsito caótico, existem várias empresas aéreas e de telefonia que mantêm seus funcionários trabalhando em casa (com telemarketing, atendimento online de clientes, etc.) que funcionam muito bem, graças a um dispositivo acoplado ao PC do colaborador, onde através da sua digital ele registra o horário de início e término de trabalho. Mas para que funcione, o colaborador não pode ter filhos pequenos em casa nem animais de estimação ou qualquer outro motivo que distraia sua atenção. Ou seja, ele tem que ficar durante aquele período, centrado nas suas atividades profissionais. É uma alternativa bastante viável em face aos engarrafamentos diários de até 4 horas que enfrentam todos os dias na capital paulista.
No que o ambiente de trabalho reflete nas relações interpessoais?
Se considerar que um adulto passa em média 8 horas dormindo e entre 8 e 10 horas trabalhando, o ambiente de trabalho reflete na grande maioria das relações interpessoais de um profissional. Se vai refletir de maneira positiva ou negativa, vai depender de como esta pessoa se relaciona no trabalho.
Um bom relacionamento interpessoal no trabalho reflete na qualidade de vida do profissional, ou seja, ele tem mais chances de se relacionar bem na vida pessoal?
Sem dúvida que sim. Não conheço uma pessoa que tenha um mau relacionamento no trabalho e chegue em casa contente, tratando a esposa e os filhos de maneira afetuosa. Isso seria um antagonismo.
Muitas vezes, porém, o inverso não ocorre: o profissional tem bons relacionamentos interpessoais na vida privada, mas não consegue isso no profissional. Por que isso não acontece?
Na maioria das vezes, isso acontece porque ele aceitou um emprego numa empresa que tem uma cultura completamente diversa da sua. Ou seja, ele é uma pessoa mais aberta, menos formal, e na empresa todos primam pelo formalismo. Ou vice-versa. O importante, é que a cultura do profissional e da empresa sejam alinhadas.
Há casos em que o relacionamento interpessoal no trabalho entra na vida privada do profissional, ou seja, ele (ou ela) passa a se relacionar afetivamente com um colega de trabalho. No que isso ajuda ou atrapalha?
Vai ajudar ou atrapalhar dependendo da maturidade e da postura profissional do casal. Atualmente, pelo fato de passarmos a maior parte do nosso tempo (enquanto estamos acordados) dentro do trabalho, é natural que aconteçam relacionamentos afetivos. Se o casal souber se portar de maneira adequada, sem ferir as normas de ética e conduta da empresa, não vai atrapalhar em nada o desempenho dos dois. Pelo contrário, pode servir de incentivo, uma vez que ambos terão mais assuntos em comum para discutir e poderão se apoiar mutuamente no trabalho. O problema maior é quando o casal se separa. Aí, então, ambos têm que ter muito discernimento, postura profissional e discrição para não lavar roupa suja na frente dos colegas de trabalho.
No caso de comandantes e comandados, qual a relação interpessoal ideal?
A relação ideal é a mesma em todos os sentidos, quer seja entre subordinados e superiores ou entre pares: respeito, cordialidade, admiração pela capacidade e reconhecimento do talento do outro, ética, empatia e um forte sentimento de equipe. Os melhores resultados só são alcançados quando todos numa empresa trabalham como um time, focado nos resultados, buscando um objetivo comum e o crescimento profissional de todos os membros do grupo.
Quem é a entrevistada
Cristina Bresser é formada em Comunicação Visual pela UFPR. Tem Certificate of Proficiency in English pela Cambridge University; Certificação Internacional de Coaching pelo Integrated Coaching Institute; Cursos de Mediação para atuar como Facilitadora na Resolução de Conflitos; Técnicas de Negociação e Comunicação, Atendimento ao Cliente.
É também coach e consultora em recursos humanos, atua em processos de Coaching, Outplacement, Seleção de Executivos e Treinamento, e durante 20 anos tem atuado em contratação e treinamento de executivos e profissionais da área educativa e do comércio varejista. Possui artigos sobre assuntos ligados a recursos humanos publicados em jornais e revistas, tais como: Folha de Londrina, Jornal do Estado, Jornal Indústria e Comércio, O Estado do Paraná, Gazeta do Povo, Revista Vencer, Revista Amanhã e site Bom Líder.
Email: crisbresser@hotmail.com
Jornalista responsável Altair Santos MTB 2330 Tempestade Comunicação
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