Qualidade da engenharia nacional preocupa governo
Para o especialista Joel Weisz, país falhou ao não desenvolver políticas públicas que fomentassem a formação e a qualificação de engenheiros.
Para o especialista Joel Weisz, país falhou ao não desenvolver políticas públicas que fomentassem a formação e a qualificação de engenheiros
Por: Altair Santos
Com base em informações do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) de que, apesar da alta demanda, o Brasil produz atualmente apenas 38% da força de trabalho com diploma de nível superior em engenharia de que precisa, o Governo Federal decidiu agir. Recentemente colocou a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) para analisar a crise ligada, principalmente, à capacitação no setor da construção civil. Criou-se um grupo de trabalho vinculado a 52 representantes do segmento, com o objetivo de que, até 2020, o país possa ter superado os gargalos nesta que é uma das áreas mais estratégicas para seu crescimento sustentável.
O primeiro passo do grupo de trabalho foi promover um workshop para identificar os entraves a serem enfrentados e propor políticas públicas para o crescimento da engenharia nacional. Nesta primeira etapa concluiu-se que são sete os problemas mais relevantes:
1) A inexistência de demanda interna consistente e continuada de serviços de engenharia de projeto no país;
2) Fragilidade da estrutura de capital das empresas nacionais para contratação de projetos de porte;
3) Necessidade de aprimorar mecanismos de financiamento;
4) Carência de recursos humanos qualificados;
5) Baixa atratividade do emprego em engenharia de projetos;
6) Inadequação do marco legal e ordenamento jurídico;
7) Custo Brasil.
Para ajudar a superar esses entraves, desde 2006 a Finep mantém o Programa de Promoção e Valorização das Engenharias (Promove). A ideia é possibilitar que faculdades de engenharia, setor empresarial e escolas do nível médio e técnico interajam, combinando atividades de divulgação das áreas de engenharia e proporcionando aprimoramento contínuo de professores de ciências exatas e naturais do ensino médio (matemática e física). A partir do grupo de trabalho, a tendência é que essas iniciativas se aprofundem, com a Finep liderando esse movimento. “Esse deve ser um debate de toda a sociedade brasileira, pois refere-se ao Custo Brasil e afeta a todos”, conclama o mestre em engenharia Joel Weisz.
Autor dos livros “Mecanismos de Apoio à Inovação Tecnológica” e “Projetos de Inovação Tecnológica”, Weisz entende que o Brasil enfrenta hoje um problema de carência de engenheiros mais por falta de planejamento do que investimento. “Pessoalmente, acredito que seja um problema de planejamento de longo prazo, ou melhor, de constância e continuidade nas políticas públicas. O estudante que decide estudar engenharia ingressará no mercado em cinco ou seis anos e espera permanecer por alguns decênios atuando. Porém, a inconstância nas políticas públicas e as frequentes mudanças nas regras que se observam no país não são o melhor estímulo para a formação de engenheiros”, avalia.
Por isso, Weisz defende que o Brasil tenha um banco de projetos de engenharia, para que eles possam maturar e, quando colocados em prática, permitam gastar com eficiência os recursos públicos. “Esse é o caminho, mas o obstáculo para tal é essencialmente político”, diz o especialista, completando que o país precisa também focar em profissões técnicas. “Educação de qualidade, aliada a uma proporção razoável de estudantes que sejam atraídos para profissões técnicas, será sempre um bom investimento. Sobretudo num país que tem tanto a construir pela frente”, completa.
Entrevistado
Joel Weisz, ex-chefe de setor da Finep, ex-professor da FGV e autor de livros sobre inovação tecnológica
Currículo
– Joel Weisz é engenheiro eletricista pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e, mestre em engenharia de produção pela New York University
– Atuou em diferentes indústrias e empresas de engenharia, implantou e chefiou o departamento de engenharia industrial na Eletromar-Westinghouse, além de ter sido coordenador de planejamento e estudos econômicos na Esso Química
– Foi também superintendente financeiro da Rio Doce Engenharia e Planejamento, professor na FGV em análise de investimentos e em gestão da tecnologia e chefe várias áreas na Finep
– É autor dos livros “Mecanismos de Apoio à Inovação Tecnológica” e “Projetos de Inovação Tecnológica” e atualmente dirige a Cognética, Consultoria de Empreendimentos Ltda. com ampla carteira de projetos
Contato: jweisz@globo.com
Créditos foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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