Tecnologia faz pontes estaiadas proliferarem no Brasil
Avanço dos cálculos estruturais, através de softwares, tornaram modelo construtivo ideal para vãos livres acima de 120 metros.
Por: Altair Santos
A arquitetura de pontes no Brasil tem dado preferência para o modelo estaiado. Em São Paulo, a Octavio Frias de Oliveira inspirou outras capitais. Curitiba, por exemplo, terá sua primeira ponte estaiada, cortando a Avenida das Torres. Em Manaus, atravessando o rio Negro, foi inaugurada recentemente a segunda maior ponte estaiada do mundo sobre água doce. Seria um modismo? Para o engenheiro civil Catão Francisco Ribeiro, considerado o “pai da ponte estaiada” no país, trata-se de um avanço tecnológico. “Os programas de cálculos estruturais evoluíram muito, o que permitiu aos projetos de pontes estaiadas saírem da teoria para a prática, que é o que a gente chama hoje de o estado da arte”, diz.
A recomendação técnica é que a opção por projetos de pontes estaiadas prevaleça quando existirem vãos acima de 120 metros. No entanto, ensina Catão Francisco Ribeiro, há situações – principalmente em áreas urbanas – em que a ponte estaiada pode ser a melhor opção mesmo com vãos menores. “Ela permite trabalhar com tabuleiros finos. Então, às vezes, há pouco espaço entre o lugar onde vai passar o veículo em cima e o lugar onde vai passar o veículo embaixo. Isso obriga a lançar mão de estruturas mais esbeltas”, explica, completando que a questão estética também influencia. “Por vezes, o município busca uma referência arquitetônica. Neste caso, é o apelo estético que decide.”
A dimensão dos vãos a serem vencidos pelas pontes estaiadas também influencia no custo da obra. “Quanto maior o vão, maior o custo”, resume Catão Francisco Ribeiro, ressaltando, porém, que questões ambientais também têm peso na escolha de projetos de pontes estaiadas. “Se o projeto for para uma ponte sobre um rio, e o meio ambiente não permite que se mude a condição de fluição das águas, então você é compelido a fazer um pilar numa margem e um pilar na outra. Isso faz com que o vão aumente e consequentemente o custo da obra aumente. Se for possível colocar pilares dentro da água, para fazer vãos menores, a obra fica mais barata.”
Autor de 20 projetos de pontes estaiadas, Catão Francisco Ribeiro trabalha atualmente numa obra em Piracicaba, no interior de São Paulo, em que a encomenda é que o viaduto, além de estaiado, sirva também de mirante para a cidade. “Muitos dos meus projetos se transformaram em elementos turísticos dentro das cidades. Em Teresina, no Piauí, única capital nordestina sem praias, a ponte estaiada tem um mirante panorâmico em que é possível enxergar o mar. Orgulha-me também ter projetado a ponte sobre o rio Negro, em Manaus. É uma obra já considerada tão relevante quanto a ponte Rio-Niterói. Esse é o verdadeiro estado da arte”, elogia.
Outra obra relevante da qual o engenheiro civil participou foi a construção do viaduto Octavio Frias de Oliveira, em São Paulo. O projeto ganhou prêmios internacionais por seus cálculos aprimorados. “Ela tem um tabuleiro curvo com um raio muito fechado. Tem um cruzamento de estais e um arco em X. É uma obra de engenharia muito antes de ser uma obra de arquitetura. O objetivo principal, que era transpor o rio Pinheiros da melhor maneira possível, foi cumprido milimetricamente”, afirma. Catão destaca ainda que hoje só é possível construir pontes estaiadas no Brasil graças a três centros tecnológicos que permitem testes de ensaio em túnel de vento: o do ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica) em São Jose dos Campos-SP, o do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) em São Paulo, e o da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) em Porto Alegre. “Temos tecnologia 100% nacional para construir nossas pontes estaiadas”, afirma.
Saiba mais
Pontes estaiadas são compatíveis com estruturas pré-moldadas. A que transpõe o rio Negro contou com segmentos de sete metros, que pesavam 250 toneladas e foram moldados in loco. Esse tipo de obra também não requer concretos especiais, apesar de consumir uma quantidade maior de aço em sua estrutura.
Entrevistado
Catão Francisco Ribeiro, engenheiro civil e diretor executivo da Enescil Engenharia de Projetos
Currículo
– Graduado em engenharia civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (1975)
– Tem pós-graduação em Pontes pela POLI (1978-1979)
– Cursou a faculdade de Economia e Administração da USP (1983-1984)
– Possui cursos de programação no ITA (1970) e de elementos finitos para aplicação em stress e stardine, na Control Data Systems, nos Estados Unidos
– É diretor executivo da Enescil Engenharia de Projetos, fundada em 1970. Responsável técnico por mais de 1.600 projetos estruturais de obras de arte especiais
Contato: eng.projetos@enescil.com.br
Créditos foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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