Bloco de concreto começa a virar o jogo
Com tecnologia, investimento e normatização mais rigorosa, produto ocupa cada vez mais espaço no mercado, aponta presidente da BlocoBrasil.
Com tecnologia, investimento e normatização mais rigorosa, produto ocupa cada vez mais espaço no mercado, aponta presidente da BlocoBrasil
Por: Altair Santos
Essenciais à alvenaria, os tijolos precisam atender a itens básicos, como resistência mecânica, peso, absorção de umidade, características de isolamento e condução térmica, além de se adequarem aos tipos de superfície e à compatibilidade com o acabamento, seja pintura, revestimento com argamassa ou outro material. Atualmente, dois produtos atendem com mais eficácia a esses requisitos: os blocos cerâmicos, popularmente conhecidos como tijolos de barro, e os blocos de concreto.
Hoje, eles disputam o mercado praticamente em condições de igualdade, apesar de os tijolos cerâmicos ainda dominarem uma fatia maior. Não por muito tempo, estima o arquiteto Carlos Alberto Tauil, presidente da BlocoBrasil (Associação Nacional dos Fabricantes de Blocos de Concreto). Na entrevista a seguir, ele expõe as razões pelas quais os blocos de concreto já dominam as obras industriais e têm conseguido quebrar preconceitos relacionados às obras residenciais. Confira:
Comparando blocos de concreto aos de tijolos, quais as vantagens e desvantagens de usar um ou outro em uma obra?
No caso do bloco cerâmico (tijolo), existem vários tipos, mas, apesar de a fabricação seguir normas da ABNT, o produto final é irregular. Então, ele exige uma camada de revestimento muito grande. Aí é que o bloco de concreto, falando em alvenaria de vedação, leva vantagem. Ele tem medidas com tolerâncias muito pequenas, o que permite uma redução acentuada na aplicação de revestimento em relação ao tijolo cerâmico. É por esse motivo também que, no caso das paredes em alvenaria estrutural, a maioria das obras opta pelo bloco de concreto.
Em percentual, qual o espaço que cada um ocupa na construção civil brasileira?
Na Grande São Paulo, incluindo capital e região metropolitana, e onde a BlocoBrasil tem um mapeamento do consumo destes dois materiais, é mais ou menos 50% a 50%. Isso falando em paredes de vedação. No caso de parede estrutural, como disse, o bloco de concreto já ocupa 95%. Ainda em se tratando de parede vedação, o uso de tijolo cerâmico e de bloco de concreto varia de região para região. No Norte e no Nordeste do país, o cerâmico está presente em 90% das obras. No Sul, também é muito utilizado o bloco cerâmico, mas o de concreto já ocupa uma boa parcela. Diria que hoje o uso está em torno de 60% cerâmico e 40% concreto.
Por que para as obras industriais o bloco de concreto é mais eficiente?
Os blocos de concreto são mais eficientes para obras industriais, por que, além de ter mais resistência, normalmente são paredes grandes em que eles são deixados aparentes e simplesmente pintados, dispensando o custo com camadas de revestimento.
É possível bloco de concreto e bloco cerâmico conviverem em harmonia numa obra?
Não é recomendável. O que é utilizado muitas vezes é a elevação com bloco de concreto e o revestimento externo com tijolinho comum. São plaquetas de tijolo que são usadas como acabamento de aparência. Daí, a parte interna da parede em bloco de concreto recebe o gesso aplicado diretamente.
Qual mercado hoje é o mais aquecido: o que vende bloco de concreto ou que vende tijolo?
O bloco cerâmico é encontrado em mais pontos de venda do que o bloco de concreto. Por isso, ele ainda é a primeira opção para o chamado consumo formiguinha. Agora, quando o construtor quer realmente tirar partido da economia ele utiliza o bloco de concreto pela vantagem que tem na redução das camadas de revestimento. Então, no Brasil, o bloco cerâmico ainda vende mais, mas o bloco de concreto tem recebido muitos investimentos. Novas empresas têm surgido, a produção aumentou e, consequentemente, os pontos de venda também.
Há termo comparativo de preço: qual é mais barato?
Bloco por bloco, o cerâmico é mais barato. Parede por parede, a parede com bloco de concreto é mais barata pelo fator revestimento.
Em termos de aprimoramento do material, o que se tem hoje de avanço para o bloco de concreto e para o tijolo?
O bloco de concreto tem um desenho que há muitos anos é utilizado e tem uma modulação e uma norma consolidada. Agora, os blocos cerâmicos passaram a imitar as dimensões dos blocos de concreto, principalmente para projetos de alvenaria estrutural, onde a vedação é feita com mais eficiência com blocos de concreto.
Para regiões mais frias do país, por questões de isolamento térmico, o tijolo ainda ocupa mais espaço nas obras ou não?
Se o revestimento externo for realizado com 2,5cm de argamassa e o revestimento interno com gesso, o comportamento térmico entre uma parede com bloco de concreto e uma com bloco cerâmico é praticamente o mesmo. Agora, se não houver revestimento, de fato o bloco cerâmico conduz o calor mais lentamente do que o bloco de concreto.
Em termos de sustentabilidade, qual dos dois materiais é o que causa menos impacto ambiental?
O bloco de cerâmica depende do barro, que é extraído de terra boa. São terras que normalmente seriam utilizadas para o plantio. Alguns países, como a China, já restringem o bloco cerâmico, pois eles prejudicam áreas aráveis. Sob este aspecto, os danos para a natureza são menores quando se opta pelo bloco de concreto, que depende do cimento, que não usa terra, mas tem como elemento básico a rocha.
Algumas pesquisas começam a testar, por exemplo, materiais como entulhos de construção e até papel de sacos de cimento para produzir tijolos e blocos. Qual a eficiência destes produtos?
A eficiência ainda não é comprovada quando se agregam materiais recicláveis. Agora, a dificuldade maior é industrializar isso, obter volume suficiente para manter uma linha de produção. Outra questão é a qualidade do produto. No caso do bloco cerâmico, a argila é selecionada, assim como no do bloco de concreto, em que os agregados, a granulometria e a qualidade do cimento são rigorosamente inspecionados.
Entrevistado
Carlos Alberto Tauil, secretário-executivo da BlocoBrasil (Associação Nacional dos Fabricantes de Blocos de Concreto) e especialista em construção industrializada
Currículo
– Arquiteto formado pela FAUUSP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo ) – 1967
– Fez curso de extensão universitária no BOWCENTRUM de Roterdã- Holanda -1971
– Atuou em pesquisa sobre metodologia de projeto com o grupo SAR da Universidade de Eindhoven, utilizando a coordenação modular-1971
– Introduziu o sistema construtivo de Alvenaria Estrutural na Cohab-SP em 1976
– Co-autor dos livros: Alvenaria Armada- 1981 e Alvenaria Estrutural – 2009, da Editora Pini
– Proferiu ao longo da carreira profissional centenas de palestras sobre Alvenaria Estrutural por todo Brasil e Estados Unidos.
Contato
Email: carlosalberto.tauil@gmail.com
Créditos:
Divulgação/ BlocoBrasil
Carlos Alberto/Secom MG
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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