Copa 2014: Estádio do Mineirão inova sem perder suas características fundamentais
O Mineirão é o segundo maior estádio do Brasil. Sua modernização prevê obras no Complexo da Pampulha, em Belo Horizonte (MG). Confira os detalhes da obra.
Readequação do estádio se deve a excelente qualidade do projeto original
Por: Michel Mello
O Estádio Governador Magalhães Pinto, ou Mineirão, é o segundo maior estádio de futebol do Brasil em tamanho, ficando atrás apenas do Maracanã. O projeto de construção da arena é da década de 1940 e surgiu com a ideia de construir em Belo Horizonte um estádio para acompanhar a evolução do futebol no estado de Minas Gerais. A partir do anúncio das cidades sede da Copa 2014, a escolha de Belo Horizonte foi uma opção considerada certa, devido às qualidades e características do projeto do Mineirão. A partir daí, houve a seleção das propostas onde foi escolhido o escritório Gustavo Penna Arquitetos Associados, que teve a consultoria da empresa alemã Von Gerkanm Marg und Partners (GMP).
Para o arquiteto Ricardo Gomes Lopes, coordenador do Projeto Arquitetônico do Novo Mineirão do escritório Gustavo Penna Arquitetos e Associados, “o novo projeto representa uma mudança de paradigma ocorrida na forma de se assistir a partidas de futebol – que vem de um esporte que é voltado para espectadores. Quem vai ao estádio, quer uma experiência diferenciada, antigamente o Mineirão comportava em torno de 120 mil espectadores. Após as reformas, esse número cairá pela metade, serão 68 mil cadeiras, mas os torcedores contarão com mais conforto, serviços e maior proximidade do campo de jogo”.
O novo Mineirão continuará como o segundo maior estádio do Brasil. Ainda está previsto a revalorização de área urbana de Belo Horizonte e contribuição para recuperação do Conjunto Arquitetônico e de Lazer da Pampulha.
No passado, o estádio foi construído utilizando-se amortecedores para o anel superior da arquibancada. Essa característica fez com que, a partir de movimento das torcidas, o estádio nesse setor vibrasse. “O novo projeto prevê acréscimo lateral nas vigas de sustentação do anel superior, além da adição de cabos protendidos que aumentam a força de tensão da estrutura”.
Havia problema em relação a um desnível existente entre as alas oeste e leste do estádio. Para a adaptação da arena às especificações da Fédération Internationale de Football Association (Fifa) esse desnível foi completamente retirado. Na fase atual estão acontecendo obras de rebaixamento do gramado, que chegaram até o bloco de fundação do estádio. Esse trabalho é bastante complexo e envolve a contenção de blocos e corte de cintas.
Elipse
A elipse será mantida no anel superior. No anel inferior será feita uma reconfiguração das arquibancadas para, desta forma, aproximar os assentos do campo em cerca de 30 metros, adequando-se aos mais modernos padrões internacionais que são recomendados pela Fifa.
Sustentabilidade
A sustentabilidade é um elemento essencial e indispensável para as obras da Copa 2014. As obras do projeto de modernização do Estádio Governador Magalhães Pinto estão na fase que prevê a demolição de estruturas e o rebaixamento do campo de jogo e, em acordo com o conceito de Estádio Verde, todos os resíduos resultantes dessas intervenções estão sendo reaproveitados.
Serão realizadas:
• Reaproveitamento da água de chuva para irrigação do gramado, jardins e limpeza das áreas externas;
• Geração de energia elétrica através da captação de energia solar, por meio de células fotovoltaicas instaladas na cobertura existente e na nova cobertura;
• Reaproveitamento dos resíduos da construção civil no próprio canteiro de obras;
• Incentivo ao transporte público, através de dois terminais de ônibus no empreendimento, e às formas alternativas de transporte, como bicicletas (bicicletário) e vagas preferenciais para car pool (dois ou mais passageiros por veículos);
• Retrofit de edificação – nesse conceito edificações mais antigas podem ser remodeladas para novos usos. É também uma atualização tecnológica de um elemento ou espaço existente ao invés de se construir algo novo;
• Locais de convívio público em áreas abertas e em contato com áreas verdes como esplanada e áreas adjacentes externas;
• Iluminação de alta eficiência e baixo consumo (LED) e sistema elétrico inteligente;
• Reaproveitamento do calor do sistema de ar-condicionado para aquecimento de água dos vestiários de jogadores e sanitários da área VIP;
• Sistemas de válvulas de descargas com duplo acionamento e torneiras com fechamento automático;
• Sistema de coleta seletiva de lixo e armazenamento de resíduos sólidos.
Modernização do estádio
A modernização do Mineirão prevê o rebaixamento do gramado em 3 m, a demolição da geral e do anel inferior de arquibancadas. Além disso, o projeto conta com um novo anel inferior de cadeiras, mais próximo do gramado que avançou em cerca de 30 m em relação ao projeto original. Isso garante melhores condições de visibilidade do campo de jogo. Destaque também para a nova cobertura sobre o novo anel inferior, em estrutura metálica e policarbonato translúcido, complementar à cobertura de concreto existente.
No setor oeste, serão construídos dois níveis para assentos VIP e VVIP com camarotes e assentos diferenciados, áreas de apoio exclusivas, lounges executivos, restaurantes e acessos independentes. Haverá a criação de uma esplanada pública em todo o entorno do estádio no nível de acesso pela Avenida Abrahão Caram.
Está prevista também a criação de dois pavimentos em níveis abaixo da esplanada, aproveitando-se o desnível do terreno, para estacionamentos, áreas comerciais e de apoio ao funcionamento do estádio com acessos pelas avenidas Oscar Paschoal, Abrahão Caram e Avenida C. O contato destas áreas com as avenidas lindeiras permite que as áreas comerciais possam ter funcionamento independente durante os dias de jogo e assim garantir outras formas de sustentabilidade econômica para o empreendimento.
Fachada
O arquiteto Ricardo Gomes destaca: “A arquitetura do estádio do Mineirão e sua imagem são consideradas referências iconográficas, como imagens ou pinturas, que representam a cidade de Belo Horizonte. Além disso, o conjunto do estádio e o Mineirinho são tombados em conjunto com o Complexo Arquitetônico da Pampulha. Por isso, não pode haver alterações na vista a partir da lagoa. Portanto, a fachada não pode ser modificada e todas as novas intervenções devem estar restritas ao interior do estádio ou, externamente, abaixo do nível do tombamento, que foi parâmetro conceitual determinante para o projeto de modernização”.
Os pórticos existentes também serão recuperados estruturalmente, o acabamento será feito em concreto aparente e revitalizado com preenchimentos de fissuras superficiais, polimento e aplicação de proteção das superfícies em poliuretano bicomponente, a base de água, transparente, com proteção antigrafite.
Torcedores
O padrão Fifa considera o conforto dos torcedores como algo fundamental. Por isso, a obra prevê:
• Novos acessos ao estádio com entradas exclusivas e separadas para veículos e pedestres;
• Estacionamento com 3.900 vagas para veículos, sendo 3.200 cobertas;
• Criação de esplanada de público em torno de todo o estádio. Área controlada e segura contando com acessos aos estacionamentos, sanitários, áreas de apoio para venda de bebidas e alimentos, áreas para montagem de palcos e realização de eventos pré-jogo;
• Criação de novas áreas de circulação de público no anel inferior e otimização destas áreas no anel superior com áreas de apoio, novos sanitários e lanchonetes, seguindo os padrões internacionais recomendados pela Fifa;
• Serão 100% dos lugares em assentos (eliminação da geral), sendo 95% cobertos. Todos serão numerados, ergonômicos e feitos em um resistente material à base de polímero inquebrável e à prova de fogo. Os assentos VIPs serão mais largos e confortáveis e os assentos da arquibancada superior se fecham automaticamente assim que o ocupante se levanta;
• Segurança das rotas de emergência ligadas entre o campo e as vias de trânsito. Novos postos policiais, todos com acesso independente e seguro a partir do piso térreo e com vista para a área de jogo, podendo assim controlar a comunicação com os espectadores. Controle total da entrada de torcedores, com catracas eletrônicas, a partir do acesso à esplanada onde é feito o primeiro controle e realizadas as revistas. Segundo ponto de controle nos portões de acessos aos diversos setores. Monitoramento por câmeras de segurança de todas as áreas internas e das áreas externas no entorno imediato ao estádio.
Cronograma
O cronograma atual está em dia e se encontra na fase de finalização da segunda etapa de obras, que é o rebaixamento do gramado e demolição da geral. O término da obra está previsto para dezembro de 2012.
A quantidade de concreto utilizada é 154.100 m³, e de aço serão 12.450 toneladas. De acordo com o planejamento da obra, a estimativa é de que média de operários durante a 3ª etapa de obras seja de 1.188 homens. Sendo que o pico máximo de operários deve atingir os 2.258 homens. Vale destacar que o número de operários é estimado pelo Governo de Minas e é apenas um referencial. O valor total da obra está orçado em R$ 743,4 milhões.
O foco das intervenções, que acontecem até o final deste ano, está na demolição de estruturas e na remoção de terra. A previsão é de que a demolição da geral e de parte da arquibancada inferior gere aproximadamente 3,8 mil m3 de concreto e 1,4 mil m2 de alvenaria. Já o rebaixamento do campo de jogo, 90% concluído, implicará a retirada de 68,8 mil m3 de terra. Ao todo, estima-se que serão utilizados 5.700 caminhões para a retirada de todo o entulho gerado durante as obras.
>> Entrevistado
Ricardo Gomes Lopes
>> Currículo
– Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
– Coordenador do Projeto Arquitetônico do Novo Mineirão pelo escritório Gustavo Penna Arquiteto e Associados.
>> Contato: ricardo@gustavopenna.com.br
Jornalista responsável: Silvia Elmor – MTB 4417/18/57 – Vogg Branded Content
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