4 startups de construção que ganharam escala na pandemia

Soluções passam por construção modular offsite, estudo de viabilidade, industrialização e digitalização

Construtechs vêm crescendo no Brasil, mas ainda há grande potencial a ser explorado no setor
Crédito: Envato

De maneira geral, a pandemia ajudou a acelerar muito iniciativas de tecnologia. E, dentro deste contexto, muitas startups conseguiram crescer neste período. O setor de construção civil ainda representa 3% do total das startups brasileiras, segundo a Associação Brasileira de Startups (ABStartups). Entretanto, oportunidades não faltam nesta área, que vem crescendo.

“O cenário de startups no Brasil tem vivido um crescimento muito significativo, evidenciado pelos investimentos em startups em 2021, que mais do que dobrou em relação ao do ano anterior. A realidade para o segmento de startups voltadas ao setor da construção civil também tem sido de crescimento, chegando a um número de 839 startups de construtech e proptech (property technology, ou tecnologia da informação no mercado imobiliário) em 2021, comparado a 703 em 2020, segundo o Mapa Terracotta Ventures”, relata Guilherme Rosa, head do iCON Hub, braço de tecnologia e inovação do Sindicato da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP). 

Dentre as construtechs, um dos principais focos de transformação trazidos pelas startups está a digitalização do canteiro de obras. “Durante a pandemia, as soluções digitais permitiram maior resiliência frente às incertezas que afetam os processos de trabalho e a mão de obra. As empresas que investiram em novas ferramentas das startups almejam ganhos de produtividade pelos benefícios trazidos. Dentre eles estão melhor planejamento e gestão da obra, treinamento da mão de obra, controle de materiais, maior segurança e controle de acesso, menos desperdício, menos erros, redução do tempo de obra, entre outros ganhos”, explica Rosa.

Desafios das construtechs

Na opinião de Rosa, um grande desafio para implantação destas tecnologias é o acesso e a adoção de todo este conjunto de tecnologias pelas pequenas e médias empresas. “Além do desconhecimento, muitas vezes elas precisam superar as dificuldades de se investir em tecnologia, capacitar suas equipes e promover uma transformação cultural em seu canteiro de obras”, aponta. 

4 startups que ganharam escala recentemente

Brasil ao Cubo

Rosa acredita que um dos movimentos que foi  destaque nos últimos anos está relacionado à tendência da construção modular offsite, ou seja, sistemas construtivos baseados em módulos, com sua fabricação fora do canteiro de obras. 

Um exemplo disso é a Brasil ao Cubo, que desenvolve projetos de construção modular offsite, nos quais edifícios são erguidos em módulos individuais pré-fabricados e depois montados no canteiro de obras. “Esta técnica permite entregar obras com velocidade quatro vezes maior que um projeto comum. A empresa foi responsável pela construção de cinco hospitais durante a pandemia por Coronavírus, com o prazo entre 30 e 35 dias cada um, com uso de módulos metálicos. Ela recebeu aporte de R$ 60 milhões da Gerdau por 33% da empresa e, recentemente (jan/2022), a Dexco investiu R$ 74 milhões por 13% da startup”, pontua Rosa. 

Tecverde 

Nesta mesma linha de construção offsite modular, Rosa cita a Tecverde, que é uma empresa de construção industrializada em woodframe que atraiu a atenção de grandes empresas. “Ela já havia recebido aportes, sendo o último de R$ 40 milhões, que culminaram no fim de 2019 na cessão do controle majoritário para a joint venture formada pela Arauco e Etex”, explica. 

Âmbar

Outro movimento que tem ocorrido, de acordo com Rosa, é um grande volume de startups com soluções ao longo de toda a jornada da construção civil. “Elas ‘surfaram’ a onda inicial de digitalização, que substituiu as tarefas feitas ‘em papel’. O passo seguinte está sendo integrar estas soluções pontuais, que não se comunicavam bem, em plataformas que consigam oferecer uma experiência melhor aos clientes. As plataformas que têm surgido são capazes de proporcionar um conjunto de soluções, que começam a partir de um ponto específico na cadeia de valor e avançam para outros pontos da cadeia, integrando novas soluções para o cliente”, expõe. 

Nesse sentido, Rosa menciona a Âmbar, que é uma startup que começou com uma proposta de construção modular e hoje atua em duas vertentes – industrialização e digitalização – a partir da plataforma de soluções criada em 2018.

Dataland

Por último, Rosa cita a Dataland, startup que usa dados e inteligência artificial para o processo de estudo de viabilidade de incorporações.

“A empresa oferece soluções inteligentes para coleta, catalogação e clusterização de dados que gerem informações e facilitem a tomada de decisões dos seus clientes. Assim, rapidamente, incorporadoras e construtoras conseguem dimensionar o potencial construtivo e a avaliação do bairro em estudo, entre outras informações e variáveis importantes para a viabilidade da compra do terreno. São soluções mais inteligentes e mais potentes para o antigo desafio de análise de dados preditiva, oferecendo não somente uma ‘foto’ do projeto analisado mas um ‘filme’, em que se pode observar o resultado da interação de variáveis no futuro. A plataforma hoje analisa a cidade de São Paulo, lote a lote até o detalhe da quadra, a partir de mais de 400 camadas de dados. A Dataland recebeu no ano passado o aporte de R$ 5 milhões do fundo GHT4, com o plano de chegar a 40 municípios nos próximos anos”, conclui. 

Lacunas a serem exploradas

Rosa menciona que, de acordo com o relatório Moldando o futuro da construção e do setor imobiliário, feito pela Deloitte Catalyst de Israel, são tendências e, portanto, podem ser exploradas por startups:

  • Arquitetura sustentável e ambientalmente amigável;
  • Impressão 3D (Construção 4.0 / Manufatura Aditiva); 
  • Aumento do uso de automação e robótica;
  • Industrialização da construção – pré-fabricado e modular;
  • Métodos avançados de construção – digital twins e BIM;
  • IA e análise de dados avançada em gestão de projetos e on-site.

Entrevistado
Guilherme Rosa é head do iCON Hub, braço de tecnologia e inovação do Sindicato da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP)

Contato
guilherme@iconhub.com.br

Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP



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