USP testa pavimento rígido sem junta de dilatação
Tecnologia não é nova, mas pesquisa desenvolvida na universidade ajuda a consolidar concreto como alternativa para as rodovias brasileiras
Tecnologia não é nova, mas pesquisa desenvolvida na universidade ajuda a consolidar concreto como alternativa para as rodovias brasileiras
Por: Altair Santos
Um trecho de 200 metros da Avenida Professor Almeida Prado, no campus da Universidade de São Paulo, na cidade de São Paulo, testa o aprimoramento de uma tecnologia que não é nova na pavimentação à base de concreto. A inovação está no tipo do material que reveste a pista e em sua estrutura. “O experimento usa armaduras de aço galvanizado, que permite descartar as juntas de dilatação, e emprega concreto reciclado como agregado”, diz o professor José Tadeu Balbo, coordenador do Laboratório de Mecânica de Pavimentos (LMP), do Departamento de Engenharia de Transportes (PTR) da Poli.
O uso do agregado reciclado no concreto permite produzir um revestimento com resistência de 4,5 a 5,0 MPa em tração na flexão. Já a camada que se espalha sobre a trama da estrutura tem espessura de 24 centímetros, que vai recobrir vergalhões de 20 mm espaçados a cada 17,5 cm. Para Balbo, é o suficiente para fazer um pavimento que alie qualidade com durabilidade. “A espessura determina a vida útil do pavimento. Com 24 cm, a estrutura é suficiente para atender rodovias, aeroportos e corredores de ônibus. Para tráfego rodoviário muito pesado, espessuras de 30 centímetros podem atingir durabilidade de 50 anos, com baixa manutenção”, explica.
Esse tipo de tecnologia foi empregada na construção do anel viário de Amsterdã, na Holanda, há sete anos. Nos Estados Unidos, existem mais de 50 mil quilômetros de rodovias que utilizam o pavimento em teste na USP. “A Federal Highway Administration (o Dnit dos EUA) preza por pavimentos altamente duráveis. Na Holanda e Bélgica, esse revestimento é extremamente comum. Na Alemanha, ele é muito empregado para plataformas estáveis para trens de alta velocidade”, revela José Tadeu Balbo.
Pista-laboratório e pista-teste
Além dos exemplos citados pelo professor da USP, no Brasil, desde 1997, um trecho de 23 km de estrada foi construído com concepção tecnológica parecida. Trata-se do percurso que leva à fábrica da Cia. de Cimento Itambé, no município de Balsa Nova-PR, e que funciona como um verdadeiro laboratório para pesquisas em pavimentos de concreto. A rodovia de mão dupla, onde trafegam diariamente caminhões carregados, foi dividida em vários segmentos, onde houve o emprego das seguintes tecnologias: pavimento de concreto simples com barra de transferência; pavimento de concreto estruturalmente armado com placas de 15 m de comprimento e 15 cm de espessura; pavimento intertravado de concreto (paver), e pavimento flexível sobre base de concreto compactado a rolo – CCR.
Na pista-teste da USP foram usados 26 caminhões-betoneira carregados com 7 m³ de concreto cada um, a fim de pavimentar os 200 metros. O trecho foi dividido em segmentos, nos quais foram aplicadas diversas combinações de materiais, cujo desempenho será avaliado ao longo de cinco anos do estudo. Dos quatro tipos de concretos que estão sendo testados, dois têm agregados reciclados. Metade da pista utiliza aço comum e a outra aço galvanizado. Os primeiros testes começam a ser realizados no dia 26 de fevereiro. “Queremos entender, especialmente, como as fissuras ocorrem no concreto”, conta José Tadeu Balbo. Estima-se o envolvimento de, pelo menos, dez alunos de mestrado e de doutorado da USP ao longo dos anos de execução da pesquisa.
Entrevistado
José Tadeu Balbo, engenheiro civil, doutor em engenharia, professor e chefe do Departamento de Engenharia de Transportes da EPUSP e Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Transportes da EPUSP (2015-2017)
Contato: jotbalbo@usp.br
Crédito Foto: Divulgação/Cia. Cimento Itambé
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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