Ponte de concreto vence a força do rio Negro

Governo do Amazonas constroi no rio Negro a mais extensa ponte sobre água doce do Brasil

Governo do Amazonas constroi no rio Negro a mais extensa ponte sobre água doce do Brasil

Ponte sobre o rio Negro: estaiada, e em forma de diamante, ela poderá ser vista a 30 quilômetros de distância

No Amazonas, sobre o rio Negro, está em construção a maior ponte em ambiente de água doce do Brasil. A obra é também a segunda maior do mundo, perdendo apenas para a Ciudad Bolivar, que cruza o rio Orinoco, na Venezuela. Utilizando a tecnologia de concreto resfriado, o empreendimento, quando pronto, vai medir três mil, quinhentos e noventa e cinco metros contra os três mil e seiscentos da ponte venezuelana.

Por causa das enchentes no rio Negro em 2009 – as maiores já registradas desde 1953 -, o cronograma sofreu atraso e a inauguração da ponte estaiada será em outubro deste ano. Até o final de janeiro, das 246 estacas que sustentam a construção, restam apenas duas para serem cravadas. A ponte e o anel rodoviário em seu entorno têm um orçamento de R$ 574 milhões. Apesar de contar com financiamento do BNDES, ela não faz parte do rol de construções do PAC.

Atualmente, a travessia do rio Negro para Manaus é feita por balsas que levam até 40 minutos para cruzar de uma margem a outra. Com a ponte, o trajeto levará menos de 10 minutos. A projeção é que a construção receba um fluxo semanal próximo dos 15 mil veículos. No entanto, como a construção foi planejada para suportar o crescimento da região até 2060, seu projeto pode receber o dobro do fluxo de veículos esperado em sua inauguração.

René Levy, secretário da Região Metropolitana de Manaus

Com isso, a expectativa é de que a obra faça a economia de Manaus e região metropolitana dar um salto. “Os trinta municípios vizinhos da capital poderão compartilhar de todos os benefícios que decorrem do projeto da Zona Franca de Manaus. Além disso, ao norte, a ponte facilitará a conexão com Roraima e com os países caribenhos. Ao sul, permitirá a ligação com a BR-319 e o restante do país por rodovia”, explica René Levy, secretário da Região Metropolitana de Manaus.

A construção da ponte é hoje o empreendimento que mais emprega mão de obra em Manaus. Atualmente, são mais de 3.300 trabalhadores diretos e 8 mil indiretos. A ponte é construída pelo consórcio Rio Negro, formado pelas construtoras Camargo Corrêa e Construbase.

Etapas da obra

Os trabalhos de construção avançam em etapas diversificadas que envolvem as sondagens, fundações, cravação, concretagem de tabuleiros e das estacas de camisas metálicas, que medem até 70 metros. Na margem esquerda do rio, onde fica Manaus, já foram concluídos 25 vãos, totalizando 1.125 metros de tabuleiro. Também neste trecho, da margem esquerda, o trabalho de lançamento de vigas longarinas continua, para posterior conclusão de toda a concretagem do tabuleiro do lado de Manaus.

A ponte que modificará a economia no entorno de Manaus tem fundações que alcançam mais de 90 metros de cumprimento

No apoio central da ponte, que mede 55 metros de altura, foi concluída em janeiro a concretagem da laje de travamento, que servirá de suporte para o mastro central, de onde se originará o tabuleiro que sustentará os dois vãos centrais de 200 metros cada um. Já foi iniciada a concretagem da primeira camada para construção do mastro central, que mede 103 metros.

Na margem direita do rio Negro, em Iranduba, a 25 quilômetros da capital, as atividades se concentram na parte viária e na cravação, escavação e concretagem de camisas metálicas (tubos) e construção de pilares. Neste trecho já estão prontos 14 pilares. Dos 246 tubos previstos para a obra, faltam apenas dois para serem cravados no leito do rio.

Além da fábrica de camisas metálicas, o consórcio Rio Negro colocou em funcionamento, em Iranduba, o pátio de fabricação de vigas. Também entrou em operação, o carrelone, um equipamento que faz o transporte das vigas longarinas com mais rapidez até o local de lançamento no vão. “Os trabalhos preliminares de sondagens no rio Negro, no início da obra, revelaram a necessidade de utilização de equipamentos especiais para a execução do empreendimento, devido às peculiaridades da região Amazônica”, explica o gerente de obras do consórcio Rio Negro, Henrique Domingues.

Algumas das dificuldades citadas pelos engenheiros do Consórcio Rio Negro são as grandes lâminas d’água, a forte correnteza e profundidades que chegam a 70 metros em alguns trechos do percurso da Ponte. Entre os equipamentos especiais necessários na obra está um guindaste com capacidade para movimentar até 300 toneladas, utilizado para posicionar as estacas no leito do rio.

Texto complementar

Volume de concreto equivale a dois Maracanãs

Entrevista com o secretário da Região Metropolitana de Manaus, René Levy, sobre aspectos especiais da ponte que cruzará o rio Negro.

A ponte é a maior do Brasil sobre ambiente de água doce. O projeto se inspira em algum outro já construído ou ele apresenta inovações que a tornam uma obra diferenciada?
O projeto utiliza a tecnologia de Stay, já aplicada em outras pontes no Brasil como em outros países. Mas a diferença dela para as demais é o marque central e os dos dois vãos livres ao redor deste marque central, que tem 172 metros de altura, a partir do nível de água, e vãos livres de 55 metros de altura por 200 de largura. Isso vai dar à ponte um formato em diamante e ela poderá ser vista a uma distância de até 30 quilômetros.

Em termos de sistema construtivo, há alguma novidade empregada na construção da ponte?
Nós tivemos alguns desafios muito grandes. Primeiro, por que estamos construindo num rio gigantesco, onde o menor trecho é exatamente este onde estamos construindo. Segundo, pelo vazio científico que se tinha da região, o que obrigou investigações geológicas para a implantação das fundações. A obra exigiu camisas metálicas de grandes proporções. Nós temos a menor delas em torno de dois metros e vinte centímetros de diâmetro e a maior de dois metros e meio de diâmetro. Elas estão cravadas num leito absolutamente desconhecido e com uma força d’água respeitável. Tínhamos pouco conhecimento da corrente e das profundidades variáveis do rio. Isso torna a obra um desafio diário e exige novidades tecnológicas, como a aplicação de blocos de coroamento em casca para suportar a força do rio Negro e suas cheias.

O concreto empregado na obra tem algum componente diferenciado?
Uma curiosidade é que é um concreto resfriado, em função do volume necessário para fazer a concretagem das fundações, que às vezes alcançam mais de 90 metros de comprimento e que demoram algo em torno de dez horas para concretar. Então houve a necessidade de se resfriar o concreto. O material é misturado com gelo para que haja uma cura homogênea e se evite qualquer área de fragilidade.

O rio Negro, pela sua dimensão, tem exigido estratégias de engenharia diferenciadas para a realização da obra?
Como eu citei anteriormente, o grande desafio era o desconhecimento geológico, geotécnico e hidrológico do rio. Para a obra suportar todo esse impacto, posso afirmar que há, submerso no rio Negro, um volume de concreto equivalente ao estádio Maracanã. E sobre as águas do rio haverá um outro Maracanã em concreto.

Características do projeto

* Comprimento total da ponte – 3.595 m
* Número de vãos – 73
* Extensão do trecho estaiado – 400,0 m
* Extensão do vão central – 2 x 200,0 m
* Largura da seção tipo – 20,70 m
* Largura da seção estaiada – 24,60 m
* Altura do vão central – 55 m
* Altura do mastro central – 103 m
* Número total de estais – 56 m
* Total de vigas pré-moldadas – 213
* Número total de estacas escavada – 246
* Volume de concreto por estaca: 2.800 sacos de cimento

Curiosidades

* Concreto Estrutural (m3) – 138.000 – equivalente a 25 prédios de 20 andares
* Aço CA-50 (toneladas) – 12.300 – equivalente 20 balsas cheias de aço
* Aço CP-190 RB (toneladas) – 1.630
* Aço CP-172 RB (toneladas) – 570
* Cimento – um milhão de sacas de cimento
* Vigas Pré-moldadas 45 metros (peças) – 213
* Pilares /apoios (unidades) – 74
* Base de Solo-Areia-Seixo (m3) – 47.000
* Revestimento Betuminoso (toneladas) – 72.000

Jornalista responsável – Altair Santos MTB 2330 – Vogg Branded Content



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