A 100 dias das Olimpíadas, Rio sofre com obras
Equipamentos esportivos dão sinais de que ficarão prontos a tempo, mas mobilidade urbana mostra fragilidade
Equipamentos esportivos dão sinais de que ficarão prontos a tempo, mas mobilidade urbana mostra fragilidade
Por: Altair Santos
Dia 27 de abril a cidade do Rio de Janeiro iniciou a contagem regressiva de 100 dias para o início dos jogos olímpicos. Transformada em canteiro de obras, a capital fluminense se divide em duas frentes. Uma se relaciona com os equipamentos esportivos, cuja boa parte está com a execução das obras entre 90% e 100%; outra, diz respeito às estruturas de mobilidade urbana projetadas para o Rio, e que ainda não se transformaram em legado olímpico. Pelo contrário, repercutem negativamente sobre o evento.
Além de correr contra o tempo para que as obras fiquem prontas até o início das Olimpíadas, a prefeitura do Rio precisa, agora, comprovar que as construções têm qualidade. A queda de um trecho da ciclovia Tim Maia reforça essa tese. Dia 21 de abril, a infraestrutura não resistiu ao impacto de uma forte onda e um dos tabuleiros pré-fabricados da ciclovia desabou, matando duas pessoas. As conclusões preliminares são de que houve erro de projeto, o que levou a estrutura a não resistir ao impacto da onda.
Inaugurada em janeiro de 2016, a ciclovia já havia causado preocupação no Tribunal de Contas do Município em julho de 2015, quando uma auditoria identificou problemas em sua construção. O documento alertou para “trincas” e “depressões”, pedindo a correção das falhas. A preocupação tornou-se pública após o acidente e a secretaria de obras do município disse que atendeu às solicitações do tribunal.
O caso da ciclovia, que por si só é emblemático, repercute sobre outras obras relevantes para a cidade, como o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) que leva ao aeroporto Santos Dumont e a linha de metrô que ligará a zona sul à zona oeste – local onde estão concentrados os equipamentos esportivos e a vila olímpica. O cronograma desse empreendimento prevê a inauguração para julho. Porém, só no final de abril é que as escavações foram concluídas.
Falta de planejamento
Mesmo assim, o poder público da cidade assegura que a chamada Linha 4 do Metrô será finalizada a tempo. “Eu garanto que o metrô será operacional durante os jogos olímpicos“, insiste Rodrigo Vieira, secretário estadual de transportes do Rio de Janeiro. Segundo ele, as obras estão 93% finalizadas. Porém, mesmo com a palavra da autoridade, a prefeitura do Rio desenvolve um plano B. Entre eles, reforçar a frota de ônibus para os locais dos jogos, autorizar o serviço de vans particulares e decretar feriado na cidade para reduzir o fluxo de veículos.
Com o metrô, a meta é transportar 300 mil passageiros por dia e tirar 2 mil carros de circulação diariamente. Essa obra está para os jogos olímpicos como o velocista jamaicano Usain Bolt para o atletismo. Usando a Linha 4, o deslocamento da zona sul até a zona oeste do Rio será feito em 13 minutos. Hoje, de carro ou de ônibus, esse percurso não se concretiza em menos de duas horas. Eis o verdadeiro legado para uma cidade que espera 450 mil visitantes entre 5 e 23 de agosto.
A conta das Olimpíadas ainda não está fechada, mas já ultrapassa R$ 39 bilhões. Destes recursos, R$ 18 bilhões foram para investimento em mobilidade urbana no Rio de Janeiro. Os organismos públicos justificam os gastos elevados dizendo que a cidade passou 60 anos sem obras relevantes em transporte público. Em outras palavras, faltou planejamento adequado. Tanto lá atrás, quanto agora. Isso se reflete em orçamentos astronômicos, cronogramas apertados e perda de vidas humanas. Além das vítimas na queda da ciclovia, 11 operários morreram no conjunto de obras para os jogos. Diante deste cenário, e a 100 dias do início do evento, o Rio conseguirá uma medalha olímpica?
Entrevistados
Secretaria de transportes do governo do Rio de Janeiro e Secretaria de Obras Públicas da Prefeitura do Rio de Janeiro (via assessorias de imprensa)
Contatos
transportes@transportes.rj.gov.br
riourbe@pcrj.rj.gov.br
Créditos Fotos: Divulgação/Prefeitura do Rio/Fernando Frazão/Agência Brasil
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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