Novas normas mexem com paradigmas da construção civil

ISO 14046, que trata da Pegada Hídrica, e ISO 14067, que redefine a Pegada de Carbono, devem influenciar na fabricação de materiais de construção

ISO 14046, que trata da Pegada Hídrica, e ISO 14067, que redefine a Pegada de Carbono, devem influenciar na fabricação de materiais de construção

Por: Altair Santos

Em todo o planeta, fabricantes de materiais de construção começam a ficar atentos a duas normas ISO que prometem influenciar nos processos de produção, nos ciclos de vida e no resgate de resíduos dos componentes. Uma é a ISO 14046, que trata da Pegada Hídrica; outra, a ISO 14067, que redefine a Pegada de Carbono. Só recentemente elas começaram a ser traduzidas no Brasil, mas seus conteúdos têm potencial para mexer com paradigmas como consumo de energia, consumo de materiais, consumo de água e geração de resíduos. “O setor da construção civil é um grande consumidor de materiais. Nos Estados Unidos, por exemplo, chega a duas gigatoneladas (2 bilhões de toneladas) por ano. No Brasil, está em 800 milhões de toneladas. Por isso, essas duas ISO trarão bastante influência para o segmento”, avalia o professor-doutor Sérgio Almeida Pacca.

Sérgio Almeida Pacca: novas ISO sobre Pegada Hídrica e Pegada de Carbono terão forte influencia na construção civil

O especialista tratou da Pegada Hídrica e da Pegada de Carbono no seminário Introdução à Avaliação do Ciclo de Vida Modular (ACV-M) de Materiais Cimentícios, que foi promovido pelo Comitê Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS) dentro do Concrete Show 2014. “Materiais são definidores de sustentabilidade no setor da construção civil. Por isso, essas ferramenta (ISO 14046 e ISO 14067) aprimoram a avaliação dos impactos em cada uma das etapas do ciclo de vida dos produtos usados nas obras”, cita Sérgio Almeida Pacca. No caso da norma sobre Pegada Hídrica, ela especifica princípios, requisitos e orientações relacionadas com a avaliação de componentes, processos e organizações, com base na Avaliação do Ciclo de Vida (ACV). No Brasil, o grupo de estudos que discute a implantação da norma ISO 14046:2014 está no âmbito da CB-38/ABNT (Comitê Brasileiro de Gestão Ambiental).

Controle do RCD
O mesmo comitê analisa a ISO 14067:2013, que também está em fase de preparação para ser absorvida pelo mercado brasileiro. O objetivo é que a nova norma sobre Pegada do Carbono fortaleça a lei federal 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). No que se refere à cadeia produtiva da construção civil, a ISO 14067 também impõe parâmetros mais rígidos para a coleta de RCD (Resíduos de Construção e Demolição). De acordo com a 11ª edição do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, elaborado pela ABRELPE (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais) e lançado dia 4 de agosto de 2014, em 2013 foram coletadas 117.435 toneladas/dia de RCD em todo o país, com aumento 4,6% em comparação a 2012. Mesmo assim, o documento constata que cerca de 60% dos municípios brasileiros ainda encaminham seus resíduos para locais inadequados.

Vanderlei John: investimento em qualificação da mão de obra, equipamentos e materiais de qualidade permitem produzir concreto com menor Pegada de Carbono

O professor-doutor Vanderlei John, que também participou do seminário, palestrando sobre cenários e desafios para a sustentabilidade de produtos cimentícios no Brasil, lembrou que 56% do que é gerado como resíduo da construção é proveniente de materiais cimentícios. Para ele, esse quadro se reverte com a produção, principalmente, de concreto de melhor qualidade, mas sem aumentar volume e custo. “Como se consegue isso? Investindo em recursos humanos, ou seja, mão de obra qualificada, equipamentos e matéria-prima. Com essas três combinações, é possível reduzir de 30% a 40% a Pegada do Carbono do concreto. Se eu tenho pessoal treinado, maquinário de ponta, agregados de qualidade e o cimento certo para determinado tipo de concreto, produzo mais concreto usando menos quilos de cimento, sem precisar recorrer a cinzas volantes ou subterfúgios como retalhos de pneus velhos na composição do cimento”, alertou o especialista.


Entrevistados

Engenheiro civil Vanderley M. John, professor-doutor do departamento de engenharia civil da Escola Politécnica da USP, coordenador do Comitê Técnico de Materiais do CBCS e coordenador do Programa ACV Modular
Cientista social Sérgio Almeida Pacca, professor-doutor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, na área de gestão ambiental

Contatos
vanderley.john@poli.usp.br
spacca@usp.br

Créditos Fotos: Divulgação/Cia. de Cimento Itambé

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330


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