Bilionário saudita impõe mais um desafio à engenharia: erguer prédio de mil metros
Projeto pretende superar o Burj Khalifa, construído em Dubai, e que tem 828 m de altura. Empreendimento exige investimento superior a US$ 1 bilhão e alta tecnologia.
Projeto pretende superar o Burj Khalifa, construído em Dubai, e que tem 828m de altura. Empreendimento exige investimento superior a US$ 1 bilhão e alta tecnologia
Por: Altair Santos
Inaugurada em 2010, a torre Burj Khalifa, construída em Dubai, está com o seu título de edifício mais alto do mundo ameaçado. Com 828 metros de altura, ela deverá ser superada em 172 metros, caso o projeto do bilionário príncipe saudita Alwaleed bin Talal se concretize. A intenção é que até 2016 a cidade de Jeddah, na Arábia Saudita, abrigue uma torre com 1.000 metros de altitude, transformando-se na mais imponente do planeta.
Para erguer a Kingdom Tower, estima-se investimento de US$ 1,23 bilhão de dólares (R$ 2,21 bilhões). A torre será desenhada pelo escritório de arquitetura norte-americano Adrian Smith + Gordon Gill e será construída pela Saudi Binladin Group (SBG). O custo da obra é menor do que o da Burj Khalifa, que saiu por US$ 1,5 bilhão (R$ 2,7 bilhões), e foi erguida pela construtora Emaar Properties.
Os cálculos preveem que a Kingdom Tower consumirá pelo menos 500 mil m³ de concreto e tenha 530 mil m² de área construída. Comparativamente, a Burj Khalifa consumiu 330 mil m³ de concreto e 31.400 mil toneladas de aço. Concreto e aço, aliás, formam a base estrutural dos arranha-céus até hoje construídos. Essas edificações só se tornaram possíveis quando estes materiais passaram a ser produzidos em escala industrial.
O primeiro edifício com mais de 100 andares foi construído em 1931, na ilha de Manhattan, em Nova York. O Empire State Building, com 102 andares e 381 metros de altura, sustentou o título de maior do mundo até 1972, quando foi inaugurado o World Trade Center, também em Nova York. Isso desencadeou uma corrida por megaedifícios, que se propagou por outros continentes. Atualmente, os 10 maiores prédios do mundo são:
1º) Burj Khalifa, em Dubai, com 828 m e 163 andares
2º) Taipei 101, na Tailândia, com 508 m e 101 andares
3º) Centro Financeiro Mundial Xangai, na China, com 492 m e 101 andares
4º) Centro Comercial Internacional, em Hong Kong, na China, com 484 m e 108 andares
5º) Petronas Towers, na Malásia, com 452 m e 88 andares
6º) Zifeng Tower, em Nanjing, na China, com 450 m e 88 andares
7º) Sears Tower, em Chiga (EUA), com 442 m e 108 andares
8º) Centro Financeiro Guangzhou Internacional, na China, com 439 m e 103 andares
9º) Torre Trump Internacional, em Chicago (EUA), com 423 m e 98 andares
10º) Empire State Building, em Nova York (EUA), com 381 m e 102 andares
Construções de arranha-céus, no entanto, exigem tecnologias próprias, como explica o engenheiro Manoel Lapa e Silva, especializado em estruturas pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Confira:
Em termos de legado para a engenharia e a arquitetura, o que obras como esses arranha-céus deixam, sob o ponto de vista de tecnologias construtivas?
A construção de edifícios altos exige a adoção de tecnologias feitas sob medida para cada caso. Em prédios de baixa e média altura, é possível a utilização de tecnologias correntes de pré-fabricação e outras que dão ganhos de escala. Em muitos casos, em edifícios altos, é necessário desenvolver concretos especiais de alto desempenho, ensaios em túnel de vento de modelos reduzidos, com o objetivo de conceber estruturas mais eficientes e econômicas, e aparelhos de apoios especiais de grandes dimensões, para permitir a rotação e o deslocamento de peças estruturais e, assim, liberar os apoios de determinados esforços horizontais introduzidos pelo vento e terremotos. Em alguns casos, são contratados institutos de pesquisa para desenvolver e ensaiar materiais e calcular esforços de soluções inovadoras. A
pesquisa científica e tecnológica tem contribuído para o desenvolvimento de soluções que, posteriormente, podem ser adaptadas para casos correntes.
Em termos de materiais usados nestes empreendimentos, só o concreto permite erguer megatorres ou apenas com a combinação concreto e aço isso é possível?
Tanto o concreto como o aço, sozinhos ou combinados, são utilizados para a construção de edifícios altos. É certo que, normalmente, são utilizados tanto concretos de alto desempenho (CAD) quanto aços especiais. Do ponto de vista do dimensionamento estrutural, admite-se que um edifício pode ser considerado alto quando a influência das cargas horizontais (devidas ao vento e sismos) assume uma importância considerável. Com o aumento da altura, torna-se crucial atender à influência das ações horizontais na concepção do sistema estrutural. Assim, o partido estrutural adotado deve prever uma rigidez global que permita resistir às ações horizontais. Um outro aspecto a ser observado é o encurtamento diferencial dos pilares pela ação do peso próprio.
O Brasil já tem tecnologia e material humano capaz de erguer prédios com mais de 100 andares ou isso ainda é uma realidade distante do país?
O Brasil já tem há muitos anos capacidade para projetar e construir construções complexas incluindo edifícios altos. Já existem, inclusive, edifícios altos construídos com tecnologia nacional.
O que leva à construção de edificações como essas? Elas são lucrativas ou valem mais pelo marketing que proporcionam mundo afora?
Em grandes metrópoles, onde o custo do solo é muito alto em áreas centrais, construir edifícios altos pode ser economicamente interessante. Em alguns casos, como nos Emirados Árabes, a razão pode ser política, pela afirmação de nações em mostrar a capacidade de empreender e atrair a atenção de grandes empresas e pessoas de alta renda.
Saiba mais aqui.
Entrevistado
Manoel Lapa e Silva, vice-presidente do Clube de Engenharia
Currículo
Engenheiro civil com especialização em estruturas, formado em 1975 na UFRJ. Tem projetos estruturais construídos no Brasil e no exterior. É primeiro vice-presidente do Clube de Engenharia
Contato: diretoria@clubedeengenharia.org.br
Créditos Fotos: Divulgação/AS+GG/Skyscraper
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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