Inspeção em pontes e viadutos ganha novos critérios
Revisão da ABNT NBR 9452:2016 impõe novos parâmetros para obras de infraestrutura já construídas, principalmente para os elementos submersos
Revisão da ABNT NBR 9452:2016 impõe novos parâmetros para obras de infraestrutura já construídas, principalmente para os elementos submersos
Por: Altair Santos
Dia 8 de abril de 2016 foi publicada a revisão da ABNT NBR 9452:2016 – Inspeção de pontes, viadutos e passarelas de concreto. Ela estabelece novos critérios e especifica requisitos mais rigorosos na realização de vistorias neste tipo de infraestrutura. O texto foi elaborado pela CEE-169 (Comissão de Estudo Especial de Inspeções de Estruturas de Concreto) e esteve sob a coordenação do engenheiro civil Júlio Timerman. Foram três anos para que a revisão fosse concluída. Na entrevista a seguir, Timerman explica as mudanças na ABNT NBR 9452:2016. Confira:
O que mudou na revisão da ABNT NBR 9452:2016, publicada recentemente?
Esta norma trata de inspeções de pontes, viadutos e passarelas de concreto. A norma anterior estava bastante desatualizada e houve modificações no escopo da norma. Principalmente no que se refere à inspeção de elementos submersos em pontes e viadutos. Esta atividade não era descrita na norma anterior. A norma revisada agora torna obrigatória a inspeção subaquática, definindo a periodicidade das inspeções. Ela também estabelece os tipos de inspeções: inspeção inicial, inspeção rotineira, inspeção especial e inspeção extraordinária. Também foram inseridas na norma fichas que auxiliam o vistoriador de estruturas. Muitas vezes as normas não orientam o que tem de ser verificado. Essas fichas são roteiros que tornam a inspeção mais eficiente.
Essa norma influencia mais em estruturas já construídas ou pode abranger também obras que venham a ser feitas?
A inspeção de estruturas é sempre feita em estruturas já construídas. Pode ser uma estrutura antiga ou que acabou de ser construída. A norma tomou como base a experiência da comunidade técnica e dos profissionais que atuam na área de inspeção nesta última década, que tem sido uma década importante na engenharia de inspeções e estruturas, pois houve uma série de privatizações e concessões. Neste cenário, fez-se necessário realizar inspeções das obras. Por exemplo, o DER aqui de São Paulo, através da ARTESP (Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Transporte do Estado de São Paulo), desenvolveu um manual de inspeção em função da precariedade da versão anterior da norma. Então, a revisão tomou como base esta norma interna da ARTESP e a norma interna do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) para rodovias federais. Elas apontam como fazer uma avaliação do comportamento da estrutura sob três aspectos: segurança estrutural, funcionalidade e durabilidade. A obra é classificada em função destes três fatores e recebe uma nota. Esta nota é repassada para a entidade que administra a rodovia e, com base nela, é que será definido o calendário de manutenção. As notas menores indicam que a obra precisa de manutenções mais periódicas. Esta é a grande novidade desta norma.
Para os profissionais que atuam nesta área, a norma revisada vai exigir que eles também revisem métodos de trabalho?
Sem dúvida. Esta norma está associada à outra norma de requisitos para certificação, ou seja, ela exige que os profissionais contratados para o serviço de inspeção sejam certificados.
Por quanto tempo a norma ficou em processo de revisão, e por que ela precisou ser revisada?
A norma ficou três anos em processo de revisão. Assim como todas as outras normas, ela traduz a cultura de uma comunidade e precisa se adaptar à evolução. Havia itens que não constavam na norma anterior, e que foram inseridos, como periodicidade das inspeções e inspeção subaquática em elementos submersos. Eram itens que a gente sentia falta no mercado.
Sob sua coordenação, quantas pessoas estiveram envolvidas na revisão da norma?
Foi abrangente. A cada reunião, participavam, em média, 20 profissionais. Tanto do setor público quanto de empresas que atuam na área de inspeção de estruturas. Ao todo, a revisão envolveu 45 profissionais.
A revisão da ABNT NBR 9452:2016 pode estimular a manutenção das mais de 40 mil pontes e viadutos existentes no Brasil?
Esta é uma cultura que temos que incutir: o comprometimento do poder público no sentido de fazer a manutenção das suas estruturas. Existe uma ideia arraigada de que estruturas de concreto são eternas. Porém, elas realmente precisam de manutenção constante em função do aumento das cargas nas rodovias e do ambiente agressivo, cada vez mais poluído, que potencializa os ataques às estruturas de concreto.
Em termos de carência de revisão, quais exigem maiores demandas: pontes em rodovias ou viadutos urbanos?
Depende do local. No caso das estruturas urbanas em uma cidade com baixo impacto da poluição, o ambiente será menos agressivo. O mesmo serve para obras de arte em rodovias. Se elas estiverem em um ambiente marinho e submetidas a um alto tráfego de veículos pesados, obviamente, a manutenção será mais constante.
Com relação à ciclovia que caiu recentemente no Rio de Janeiro, ela se enquadra na norma?
Sim, mas diria que a vistoria em si não detectaria problemas. A não ser que houvesse alguma anomalia na estrutura.
A CEE-169 tem mais alguma norma em processo de revisão ou que venha a ser revisada brevemente?
Estamos em processo de revisão da ABNT NBR 9607 (Prova de carga em estruturas de concreto armado e protendido – Procedimento). Trata-se de uma norma muito importante para a construção civil.
Entrevistado
Engenheiro civil Júlio Timerman, delegado regional da ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural) em São Paulo-SP, vice-presidente do IABSE (International Association for Bridge and Structural Engineering) e diretor-presidente do Ibracon (Instituto Brasileiro do Concreto), além de consultor e diretor da Engeti Consultoria e Engenharia
Contato: julio@engeti.eng.br
Créditos Fotos: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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