Governança corporativa ganha impulso no Brasil
Instituto ligado às boas práticas inicia parceria global e expectativa é que intercâmbios disseminem ferramenta para outras empresas, além das de capital aberto.
Instituto ligado às boas práticas inicia parceria global e expectativa é que intercâmbios disseminem ferramenta para outras empresas, além das de capital aberto
Por: Altair Santos
O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) em parceria com organismos semelhantes que operam na África do Sul, Austrália, Canadá, Estados Unidos, Malásia, Nova Zelândia, Reino Unido e União Europeia, viabilizou no começo de 2013 a criação da Rede Global de Institutos de Conselheiros de Administração – Global Network of Director Institutes (GNDI). A iniciativa cria um novo fórum para compartilhar conhecimentos, ideias e práticas de governança corporativa nestes países.
Além disso, os membros da GNDI passam a desenvolver e a promover práticas de liderança, a fim de assegurar desempenho sustentável e de longo prazo às organizações. Também tornam-se metas da GNDI educar os principais formadores de opinião sobre os benefícios e valores da governança corporativa, cujos pilares ajudam as corporações a serem dirigidas e monitoradas, com o envolvimento de acionistas, cotistas, conselho de administração, diretoria, auditoria independente e conselho fiscal.
Segundo a superintendente-geral do IBGC, Heloísa Bedicks, a inclusão do Brasil no grupo mundial trará reflexos positivos para a propagação da governança corporativa no país, sobretudo para os debates que começam a surgir sobre a aplicação dessa ferramenta no serviço público e na disseminação de práticas bem sucedidas nas companhias de capital aberto para as de capital fechado e familiares. Confira a entrevista:
Recentemente foi criada a Rede Global de Institutos de Conselheiros de Administração. Qual a contribuição que esse novo organismo dará para a governança corporativa, principalmente no Brasil?
O GNDI é o esforço conjunto dos maiores institutos de Conselheiros de Administração e Governança do mundo, que visa fazer uma sinergia entre estes institutos, de forma a termos uma voz conjunta para buscar melhorias tanto para os conselheiros quanto para a disseminação das melhores práticas. Aqui no Brasil, já temos o trabalho do IBGC há 17 anos e o GNDI vai reforçar o trabalho do instituto.
A partir do GNDI, haverá a possibilidade de um intercâmbio maior entre profissionais brasileiros e de outros países?
Não é esse o foco, mas faz parte. O principal objetivo é o intercâmbio de conhecimentos, até mais do que o interrelacionamento de posições de conselheiros. É uma busca para termos uma voz única objetivando a disseminação das melhores práticas para conselhos de administração.
Atualmente, quais são as questões emergentes que têm causado mais impacto sobre as práticas de governança corporativa?
Dentro do GNDI, o que estamos discutindo atualmente é a diversidade em conselhos, não só de gênero, mas também diversidade de conhecimento, de idade, e até mesmo de posição geográfica. Há também a questão do rodízio de auditoria. Não que sejam os assuntos mais importantes, mas são os que estamos discutindo neste momento.
No Brasil, há um mercado emergente para a governança corporativa dentro das empresas?
Sim, existe um grande mercado de melhorias de boas práticas de governança, para todas as empresas, independentemente de ser num mercado maduro ou em um mercado em desenvolvimento. Podemos afirmar que no Brasil esse mercado existe não só para empresas de capital aberto, mas também para empresas de capital fechado. É importante ressaltar que governança serve para qualquer tipo de organização, desde uma empresa pequena, de capital fechado, até uma empresa listada ou uma cooperativa. Serve até mesmo para entidades do terceiro setor como ONGs.
Com a crise europeia, o Brasil tem atraído especialistas em governança corporativa de outros países?
Não tenho conhecimento da vinda de nenhum profissional específico de governança corporativa para trabalhar no Brasil, em decorrência da crise nos Estados Unidos ou na União Europeia. Pode até ter ocorrido, mas o que temos visto é um nicho dentro do mercado brasileiro para profissionais na área de governança. Grandes empresas já têm diretorias de governança e o mais frequente, independentemente do porte da empresa, é a secretaria de Governança. Função esta que assessora o conselho de administração e cuida da governança da empresa.
No caso do poder público, a governança corporativa tem encontrado espaço?
Muito pouco ainda. É um assunto que dentro do planejamento estratégico do IBGC será focado a partir de 2015. Há muito a ser feito nesta área. Ainda falta transparência, ética e muita prestação de contas dentro do setor público.
Sobre a Copa do Mundo, percebe-se hoje que boa parte das obras de mobilidade previstas para o evento não ficarão prontas. Faltou governança corporativa nestas ações?
Mais do que isso. Faltou um bom planejamento estratégico. Sabíamos que o Brasil sediaria este grande evento mundial e faltou planejamento.
Empresas ligadas à construção civil têm despertado para a governança corporativa?
Algumas sim. Há um número razoável dentro do novo mercado da Bovespa, onde existem as regras mais rígidas de governança. Mas ainda tem espaço grande para melhorias relacionada à implantação de práticas de governança por essas empresas.
E as empresas familiares, como se comportam diante da governança corporativa?
Muitas estão preocupadas, pois a temática da sucessão normalmente é um tabu dentro de empresas familiares. Muitas empresas buscam ajuda de profissionais externos, trazendo conselheiros independentes para o conselho de administração ou, numa empresa menor, um conselho consultivo. Dentro dos eventos e dos cursos do IBGC temos visto com frequência proprietários de empresas familiares, herdeiros e profissionais que atuam nestas empresas, objetivando a implantação de melhores práticas dentro dos seus negócios.
O Brasil tem boas escolas que ministram cursos sobre governança corporativa?
Existem alguns MBAs executivos que lecionam a matéria. A Fipecafi e a PUC-RS têm MBA, em parceria com o IBGC, sobre Governança Corporativa. A Business International, em São Paulo, também tem. Mas na maioria dos cursos de graduação não existe a matéria dentro do conteúdo programático. O tema é abordado dentro de outras disciplinas, e a carga horária é muito pequena em relação ao que o profissional, quando se forma, deveria conhecer.
Qual o perfil do profissional que busca se especializar em governança corporativa?
De modo geral, a maioria dos participantes dos nossos cursos ainda é ligada à área de administração, finanças, contabilidade e jurídica. Mas percebe-se um crescente interesse de engenheiros em busca de cursos e treinamentos.
Entrevistada
Heloísa Bedicks, superintendente-geral do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa)
Currículo
– Heloísa Bedicks é graduada em economia pela Unicamp e ciências contábeis pela PUC de Campinas
– É Mestre em administração financeira pelo Mackenzie e possui especialização em governança corporativa pela Yale University e pelo Global Corporate Governance Forum, além de especialização em conselhos de administração pela University of Chicago
– Escreveu o livro Governança Corporativa e Dispersão de Capital – Múltiplos Casos no Brasil
– Atua como superintendente-geral do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) desde 2001. Também preside a IGCLA (Rede de Institutos de Governança Corporativa da América Latina) e é conselheira da International Corporate Governance Network (ICGN)
– É conselheira independente da MAPFRE Seguradora de Garantias e Créditos S.A. e membro do conselho de autorregulação do programa de certificação continuada da Anbima (Associação Brasileira das Entidades do Mercado Financeiro e de Capitais)
Contato: ibgc@planin.com
Créditos foto: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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